Monday, March 29, 2021

Falar com uma porta

 A queixa que mais ouço de pessoas que se frustraram com psicoterapia é a de que nunca tinham uma orientação mais clara ou direta de seus terapeutas.

Diziam simplesmente não entenderem o que estavam fazendo ali, porque falavam o tempo todo e o terapeuta não falava nada. Ou então perguntavam sobre alguma coisa que não sabiam, e o terapeuta continuava se abstendo de responder ou orientar.

Para algumas pessoas esse procedimento funciona, mas para muitas delas não é o caso. E assim muitas terapias vão se arrastando, e o próprio terapeuta não se dá conta, ou parece não querer se dar conta de que não estão ocorrendo progressos. Ou então não tem conseguido comunicar isso ao paciente.

E se de fato não estão ocorrendo progressos, se a terapia não sai do lugar, se aquele é um espaço onde o paciente está sentido que nada de muito significativo está sendo feito, e se o terapeuta já fez o que pôde para alterar a situação e não conseguiu, talvez seja importante que esse terapeuta perceba seus próprios limites, que ele não está conseguindo dar conta do recado.

E quando o terapeuta percebe seus próprios limites, e deixa isso claro na relação, mostrando claramente que não está mais conseguindo ajudar seu paciente, conseguindo comunicar isso claramente, novas portas se abrem, inclusive a porta do encaminhamento. Porque é muitas vezes em situações assim que o encaminhamento é o mais recomendável, o mais ético.

Porque ninguém aguenta, durante muito tempo, sentir que vem interagindo, conversando, por meses a fio, com uma porta. O paciente vai embora, e não indicará esse terapeuta para outras pessoas.

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