Sunday, July 05, 2020

Sobre a angústia da finitude


Existe uma angústia em relação à finitude, da qual todos padecemos, em maior ou menor grau. Trata-se de uma angústia que foi inclusive muito tematizada durante a história, principalmente, mais atualmente, pelos existencialistas.

Costumo sentir essa angústia, de que tudo um dia irá se acabar, com mais frequência no período da tarde, em casa, em silêncio, deitado, no quarto. Nos vazios de algumas tardes secas e quentes é que, por vezes, acabo tumultuado pela dor súbita e aguda de que uma hora deixarei de existir.

E o mais curioso é que os gatilhos para que eu sinta essa angústia são mais ou menos esses: um determinado horário do dia, silêncio total, insônia ou um certo apego ao estado de vigília.

E um sentimento aparentemente contrário me acomete quando estou sob o efeito de algum psicotrópico anestesiante. Em estado de ebriedade ou embriaguez senti muitas vezes fascinação pela morte, pelo fim de tudo, com um desejo intenso de mergulhar cada vez mais nesse estado anestesiado e assim deixar de desistir. E, nesses contextos, isso me acometeu, por várias vezes, sem que eu estivesse me sentindo oprimido, deprimido, ou com qualquer tipo de sofrimento que me impelisse ao autoextermínio.

Existimos muito pouco na existência de tudo. Somos quase nada quando pensamos na escala de tempo e espaço do universo. O que mais sucedeu e sucede é nossa própria inexistência individual. Somos na verdade aquilo que não cessa de não acontecer em praticamente tudo aquilo que acontece, aconteceu e acontecerá.

Porém, há um paradoxo. Apesar de existirmos muito pouco na existência de tudo, muitas vezes sentimos que existimos demais para nós mesmos. Quem sofre, intensamente, sente, de certo modo, que está existindo demais para si mesmo.

Sob o uso prazeroso de alguma droga estimulante ou alucinógena também é possível sentir isso, que existimos demais para nós mesmos, porém sem a parte do sofrimento. É uma experiência de transbordamento.

E faz sentido também retomar a conhecida citação de Epicuro:

“A morte não é nada para nós. Quando existimos, a morte não é; e quando a morte existe, nós não somos.”

A morte faz parte da vida somente em nossas conjecturas e angústias.

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