Existe
uma angústia em relação à finitude, da qual todos padecemos, em maior ou menor
grau. Trata-se de uma angústia que foi inclusive muito tematizada durante a
história, principalmente, mais atualmente, pelos existencialistas.
Costumo
sentir essa angústia, de que tudo um dia irá se acabar, com mais frequência no
período da tarde, em casa, em silêncio, deitado, no quarto. Nos vazios de
algumas tardes secas e quentes é que, por vezes, acabo tumultuado pela dor
súbita e aguda de que uma hora deixarei de existir.
E o
mais curioso é que os gatilhos para que eu sinta essa angústia são mais ou
menos esses: um determinado horário do dia, silêncio total, insônia ou um certo
apego ao estado de vigília.
E um
sentimento aparentemente contrário me acomete quando estou sob o efeito de
algum psicotrópico anestesiante. Em estado de ebriedade ou embriaguez senti
muitas vezes fascinação pela morte, pelo fim de tudo, com um desejo intenso de
mergulhar cada vez mais nesse estado anestesiado e assim deixar de desistir. E,
nesses contextos, isso me acometeu, por várias vezes, sem que eu estivesse me
sentindo oprimido, deprimido, ou com qualquer tipo de sofrimento que me
impelisse ao autoextermínio.
Existimos
muito pouco na existência de tudo. Somos quase nada quando pensamos na escala
de tempo e espaço do universo. O que mais sucedeu e sucede é nossa
própria inexistência individual. Somos na verdade aquilo que não cessa de não
acontecer em praticamente tudo aquilo que acontece, aconteceu e acontecerá.
Porém,
há um paradoxo. Apesar de existirmos muito pouco na existência de tudo, muitas
vezes sentimos que existimos demais para nós mesmos. Quem sofre, intensamente,
sente, de certo modo, que está existindo demais para si mesmo.
Sob o
uso prazeroso de alguma droga estimulante ou alucinógena também é possível
sentir isso, que existimos demais para nós mesmos, porém sem a parte do
sofrimento. É uma experiência de transbordamento.
E faz
sentido também retomar a conhecida citação de Epicuro:
“A
morte não é nada para nós. Quando existimos, a morte não é; e quando a morte
existe, nós não somos.”
A morte
faz parte da vida somente em nossas conjecturas e angústias.
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