Na minha compreensão as pessoas, de modo geral, desejam ter filhos em função de gratificações culturais, as quais acabam se estendendo e portanto se reproduzindo para a maioria das famílias. Existe estímulo e pressão social para que as pessoas tenham filhos.
Na pré-história, os primeiros grupamentos humanos eram compostos no máximo por algumas dezenas de pessoas. Esses pequenos grupos de pessoas precisavam de prole, precisavam de reprodução farta e constante, para que continuassem existindo. Grupamentos maiores maximizam as chances de sobrevivência de todos.
Imagine por exemplo o caso de um grupo com menos de 100 pessoas, isolados de outros grupamentos humanos, com baixíssima expectativa de vida (uma média de 30 a 35 anos) e com altíssimas taxas de mortalidade infantil. Agora imagine um grupamento humano mais ou menos com as mesmas características, porém em constante conflito com outros grupos, outros clãs.
Há pesquisas que demonstram taxas de homicídio, na pré-história, por volta de 15% da população total. O Brasil está entre os dez países que possuem as maiores taxas de homicídio do mundo. Nossos índices são altos, muito altos: estão por volta de 30 homicídios para cada 100 mil habitantes. Isso, em termos percentuais, equivale a 0,03%. Atualmente o país com as maiores taxas de homicídio do mundo é Honduras, com cerca de 0,1%. E isso é muitíssimo menor do que 15%.
Então imagine um grupo, constituído por menos de 100 pessoas, com taxas de homicídio e de mortalidade infantil absurdamente superiores às atuais. Imagine o sentimento de fragilidade desse grupo. Imagine o quanto é importante a procriação constante. Desse modo, portanto, se torna bastante compreensível a existência de mandamentos sagrados tais como o "crescei-vos e multiplicai-vos”.
Essa ordenamento cultural foi muito importante, durante muito tempo, na história da humanidade, e ainda possui as suas ressonâncias, porque as pessoas desejam ter filhos e a maioria não tem muito claramente para si o porquê de desejarem ter filhos.
Algumas pessoas simplesmente dizem que gostam muito de crianças, da casa cheia de pessoas, que gostam de uma família grande, que foram criadas em uma família grande. Outras temem ficar desamparadas durante a velhice, outras se sentem muito sozinhas, e muitas pessoas simplesmente optam por ter filhos com medo de se arrependerem por não terem tido.
E muitos de nós, por um certo narcisismo, desejamos filhos muito parecidos conosco. Não duvido inclusive que algumas pessoas, se pudessem, optariam por clones, por filhos exatamente iguais a elas, em um movimento inconsciente que realiza uma fantasia de eternidade, totalmente votada à negação da finitude de seu próprio ego.
Muitas pessoas justificam que desejam ter filhos para o que concebem como sendo uma espécie de complementação da felicidade que experimentam em sua vida, ou do desejo de complementarem a união com seus respectivos parceiros.
Contudo, e finalizando, pra mim uma coisa é clara: formamos famílias e desejamos ter filhos para nos tornarmos mais fortes. E essa finalidade, mesmo que inconsciente, não é muito diferente da finalidade que sempre esteve presente na história da humanidade.
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