Thursday, May 28, 2015

A cor dos olhos e o espanto filosófico

É muito importante para a postura filosófica a capacidade de se espantar com o mundo, como se a tudo percebesse pela primeira vez.
Um olhar que se espanta é um olhar que percebe algo diverso do olhar comum. É um olhar renovado, ou primeiro. Um olhar puro, ingênuo, despido das contaminações cotidianas, das influências mais próximas.
Pode ser o olhar de uma pessoa em estado alterado de consciência (e nessa medida podemos pensar de fenômenos que vão dos sonhos ao uso de drogas), de uma criança, o olhar do louco, do bêbado ou até mesmo a percepção que animais não-humanos teriam.
Não é gratuita a inspiração que o movimento romântico sempre teve em relação a tudo o que é olhar e forma marginal de existência. Daí seu elogio à marginalidade expressa no fazer artístico, no uso de drogas, na rebeldia, nas ações cotidianas de animais não-humanos e das crianças, enfim, no elogio de tudo o que é diferente e inusitado.
Hoje, mais uma vez, uma criança (com 7 anos de idade) teve um olhar surpreendente em relação aos olhos de minha filha:
"O olho dela é diferente" - a maioria das pessoas diz que os olhos dela são bonitos.
"É diferente como?" - perguntei, pois ela poderia estar falando de várias características possíveis, desde o tamanho até a forma dos olhos.
"A cor! É diferente."
"E que cor você acha que são os olhos dela?"
"Não sei."
E os adultos não hesitam em dizer: "Que lindos esses olhos azuis dela!"...

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