É muito
importante para a postura filosófica a capacidade de se espantar com o mundo,
como se a tudo percebesse pela primeira vez.
Um
olhar que se espanta é um olhar que percebe algo diverso do olhar comum. É um
olhar renovado, ou primeiro. Um olhar puro, ingênuo, despido das contaminações
cotidianas, das influências mais próximas.
Pode
ser o olhar de uma pessoa em estado alterado de consciência (e nessa medida
podemos pensar de fenômenos que vão dos sonhos ao uso de drogas), de uma
criança, o olhar do louco, do bêbado ou até mesmo a percepção que animais
não-humanos teriam.
Não é
gratuita a inspiração que o movimento romântico sempre teve em relação a tudo o
que é olhar e forma marginal de existência. Daí seu elogio à marginalidade
expressa no fazer artístico, no uso de drogas, na rebeldia, nas ações
cotidianas de animais não-humanos e das crianças, enfim, no elogio de tudo o
que é diferente e inusitado.
Hoje,
mais uma vez, uma criança (com 7 anos de idade) teve um olhar surpreendente em
relação aos olhos de minha filha:
"O
olho dela é diferente" - a maioria das pessoas diz que os olhos dela são
bonitos.
"É
diferente como?" - perguntei, pois ela poderia estar falando de várias
características possíveis, desde o tamanho até a forma dos olhos.
"A
cor! É diferente."
"E
que cor você acha que são os olhos dela?"
"Não
sei."
E os
adultos não hesitam em dizer: "Que lindos esses olhos azuis dela!"...
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