Sunday, May 29, 2011

Sobre a tolerância religiosa (Comte-Sponville)



“Creio em Deus, porque senão seria muito triste”, disse-me um dia uma leitora. Isso, que por certo não é um argumento (“pode ser que a verdade seja triste”, dizia Renan), deve no entanto ser levado em conta. Eu ficaria zangado comigo mesmo se levasse a perder a fé quem dela necessita ou, simplesmente, quem vive melhor graças a ela. E estes são incontáveis. Alguns são admiráveis (reconheçamos que há mais santos entre os crentes do que entre os ateus; isso não prova nada quanto à existência de Deus, mas proíbe que se despreze a religião), a maioria dignos de estima. A fé deles não me incomoda nem um pouco. Por que eu deveria combatê-la? Não faço proselitismo ateu. Procuro simplesmente explicar minha posição, argumentá-la, e mais por amor à filosofia do que por ódio à religião. Há espíritos livres nos dois campos. É a eles que me dirijo. Deixo os outros, crentes ou ateus, às suas certezas." 

(Comte-Sponville, em “O espírito do ateísmo”, p. 19-20)

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