Sunday, March 27, 2005

NO QUINTAL DO PENSAMENTO

Tenho estrelas para contar, pois perdi a conta da vida em céu nublado. Já colecionei muita escuridão: viciado em bater de frente com o errado. Imperador de cagadas. Era o rei da palavra em forma de choro. E o turbilhão de palavras não explodia além da manhã. Comi muita terra para poder voar. Respirei muito vazio e abismo para conquistar a terra. De dentro do meu buraco escuro, o estado de escrever era algum vaga-lume distante. De dentro do meu buraco de escrever eu poria um sol por poesia. Às vezes, no quintal do pensamento, eu imaginava, ou melhor, eu brincava de poesia: “poedizer o mundo em oitenta versos”, Camões de um mar interior, subterrâneo ou perdido bem no meio de um Pacífico turbulento de guerra, que fracasso em trancar no peito. “Poedizer o muito, como me tenta o verso...”. Então, vaguei para os meus becos sujos e vi a morte enroscada num canto, me vomitando obscenidades. É, nunca entendi a morte. É sempre preciso deformá-la para poder entendê-la. Se eu não deformo, não me formo. Se eu não destruo eu não vejo. Maestro nessa sinfonia de equívocos, despenco do que era previsto. Meu nome é acidente, moro dentro do horror, sou foragido da razão, estou onde vocês não me procuram.

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