<>(Trecho sobre o espírito, de minha tese de doutorado)
Pois somente o espírito é que pode pairar por sobre as prisões da realidade, sejam estas prisões configuradas segundo critérios concretos ou normativos. O espírito não é definido de fora, pois somente ele pode definir-se a si mesmo. Assim, não está preso à lógica, à necessidade de definição. O espírito paira por sobre as contradições, é puro movimento, puro recriar-se. Mesmo que tudo falhe, que tudo se destrua, está lá o espírito, a única possibilidade de existência perante a destruição de todas as alternativas, de todos os meios. O espírito pode às vezes traduzir-se em silêncio, em sem-sentido (non-sense), em ausência, lugar do indecidido, o espaço que semeia a criação. Sem espírito, não há criação. Contudo, o espírito é uma impossibilidade. Frente a qualquer anúncio, mesmo que sutil, desta impossibilidade, percebemos o espírito, sua presença grandiosa que nos espanta, pois que nos coloca de frente para uma auto-abolição alegre, um desprendimento de si mesmo, imprevisto, uma retirada do campo comum em que trocamos nossos afetos, como uma contra-comunicação freqüentemente risível a zombar de uma determinação implacável que define o nosso destino, como a morte. Não é portanto gratuita a relação histórica entre o espírito e tudo o que diz respeito ao riso e as arquiteturas de sua produção. Ser espirituoso é poder, em alguma medida, libertar-se, sempre de modo obtuso, mas de forma absurdamente justificável, daí o riso. Quando votado ao riso, a justificativa pelo absurdo é a saída do espírito. >
<>Quando transitamos com tranqüilidade pelos meandros impróprios de uma expressão que atreve-se a contestar o óbvio, e insistir em enunciar o absurdo e o ridículo na dissimulação consciente de que estamos imersos no absurdo; mas que este é nosso mote de sobrevivência em uma realidade absurda, e que estar preso seriamente na mesma não merece mais do que nosso desprezo, mesmo que este possa brilhar por um único instante no beco sem saída de tal determinação: aí podemos abrir-nos para o riso: ínfimo na sua cronologia, mas eterno na memória que ensina, aos que virão, a abrir algumas brechas para o prazer, mesmo que sem corpo, sem o crivo do possível, mesmo queem espírito. O espírito possui esta virtude, a de corporificar o improvável. Como já disse, ele é sopro, ele inspira, vivifica. >
Pois somente o espírito é que pode pairar por sobre as prisões da realidade, sejam estas prisões configuradas segundo critérios concretos ou normativos. O espírito não é definido de fora, pois somente ele pode definir-se a si mesmo. Assim, não está preso à lógica, à necessidade de definição. O espírito paira por sobre as contradições, é puro movimento, puro recriar-se. Mesmo que tudo falhe, que tudo se destrua, está lá o espírito, a única possibilidade de existência perante a destruição de todas as alternativas, de todos os meios. O espírito pode às vezes traduzir-se em silêncio, em sem-sentido (non-sense), em ausência, lugar do indecidido, o espaço que semeia a criação. Sem espírito, não há criação. Contudo, o espírito é uma impossibilidade. Frente a qualquer anúncio, mesmo que sutil, desta impossibilidade, percebemos o espírito, sua presença grandiosa que nos espanta, pois que nos coloca de frente para uma auto-abolição alegre, um desprendimento de si mesmo, imprevisto, uma retirada do campo comum em que trocamos nossos afetos, como uma contra-comunicação freqüentemente risível a zombar de uma determinação implacável que define o nosso destino, como a morte. Não é portanto gratuita a relação histórica entre o espírito e tudo o que diz respeito ao riso e as arquiteturas de sua produção. Ser espirituoso é poder, em alguma medida, libertar-se, sempre de modo obtuso, mas de forma absurdamente justificável, daí o riso. Quando votado ao riso, a justificativa pelo absurdo é a saída do espírito.
<>Quando transitamos com tranqüilidade pelos meandros impróprios de uma expressão que atreve-se a contestar o óbvio, e insistir em enunciar o absurdo e o ridículo na dissimulação consciente de que estamos imersos no absurdo; mas que este é nosso mote de sobrevivência em uma realidade absurda, e que estar preso seriamente na mesma não merece mais do que nosso desprezo, mesmo que este possa brilhar por um único instante no beco sem saída de tal determinação: aí podemos abrir-nos para o riso: ínfimo na sua cronologia, mas eterno na memória que ensina, aos que virão, a abrir algumas brechas para o prazer, mesmo que sem corpo, sem o crivo do possível, mesmo que
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