Sunday, April 13, 2025

É socialismo ou a barbárie (2)

Na China algumas coisas são, de certo modo, sagradas. Uma delas é a de que o monopólio dos meios de produção não pode ficar nas mãos do setor privado. E eu acho esse princípio importantíssimo. Penso que deveria ser aplicado no mundo todo. E não consigo dar outro nome para isso. O nome disso é socialismo. 

Mais ou menos um terço das riquezas da China está nas mãos do Estado. Outro terço é misto. E outro terço é privado. Parecem ter encontrado, por ora, o melhor equilíbrio desses três setores. Embora saibamos que no final das contas o setor mais poderoso é o estatal, comandado pelo Partido Comunista Chinês.

E alguém poderia argumentar: "eis o desequilíbrio, pois agora quem oprime é o estado. Porque a concentração de poder sempre gera uma série de malefícios".

Porém se observarmos novamente por essa divisão desses três terços esse poder não é assim tão concentrado. O estado tem um poder decisório, organizador, de administração, criação e supervisão de políticas públicas, as quais também estão voltadas para políticas de desenvolvimento econômico e industrial. Investe em determinados setores, retira recursos de outros, que não estão produzindo os devidos resultados, e está o tempo todo voltado para a construção do desenvolvimento nacional. 

O que existe, em primeiro lugar, não são os interesses particulares. A prioridade são os interesses coletivos. A coletividade está acima da individualidade. E alguns princípios são praticamente sagrados, tais como a luta por mais igualdade e pelo fim da pobreza e da miséria. E nesse sentido há um compromisso muito grande para fazer valer alguns princípios fundamentais da "Declaração universal dos direitos humanos", que a maior parte do mundo capitalista ainda está longe de conseguir fazer valer ou de conseguir fazer frente ao que a China já conseguiu.

Nos últimos 50 anos retiraram mais de 800 milhões de pessoas da miséria. 

E outra coisa que é de certo modo equivocada é a afirmação de que eles não têm uma democracia representativa. Eles realmente não tem uma democracia representativa plena, no sentido de que não votam, por exemplo, para Presidente da República. Mas há muitas eleições diretas na China, que começam nos bairros e cidades e vão até os congressos populares e condados. Há muita política e muito debate político na China, em diversos níveis. Até a inteligência artificial do Google sabe disso: 

"A China possui um sistema eleitoral com diferentes níveis de representação. As eleições diretas ocorrem em nível local, para os Congressos Populares nos bairros, cidades e condados. Nestas eleições, os cidadãos votam diretamente em seus representantes.
Em níveis mais altos, como nas províncias e no Congresso Nacional do Povo (o parlamento nacional), as eleições são indiretas. Os representantes para esses órgãos são eleitos pelos Congressos Populares de níveis inferiores."

E alguém pode até alegar que o partido comunista chinês não irá permitir, mesmo em níveis locais, a diversidade, que o partido comunista não permitirá que algumas pessoas se candidatem. Isso é um fato. O partido comunista chinês não permitirá que algumas candidaturas ilegais se efetivem. 

Aqui no Brasil não permitimos que exista um partido nazista. Lá também não é permitido que existam partidos que neguem os princípios fundamentais do socialismo. Qualquer um que queira se projetar na vida política chinesa divulgando que o estado é um opressor e que o estado não deveria existir, estará cometendo uma ilegalidade. E pelo que já pude compreender de como lidam com essas questões por lá, é que os chineses costumam se expressar livremente, com bastante tranquilidade. O que não conseguem é se organizar em alguns partidos políticos que sejam contrários a alguns princípios que, para a perspectiva socialista chinesa, são irrevogáveis. 

Então não dá para montar um partido político na China que defenda o lucro e o monopólio privado sem qualquer regulação do Estado. O estado chinês está todo constituído para não permitir o monopólio privado, para não permitir que grupos privados controlem o poder. E o partido comunista não é composto por um grupinho pequeno de pessoas que concentram o poder e controlam o país. 

O partido comunista chinês tem 96 milhões de membros. Isso corresponde a quase 7% da população chinesa, o que seria equivalente a ter uma organização ou um partido comunista brasileiro que tivesse cerca de 15 milhões de membros. É muita gente. 

O presidente chinês não faz o que quer. Não é exatamente o que costuma ser compreendido como um ditador. O que ele pretende fazer ele não tira da cartola, como qualquer ditador. Existem princípios e leis muito bem estabelecidas, que ele deve seguir.

Todos os 96 milhões de membros do partido comunista têm poder de voto, em um sistema com numerosas hierarquias e de altíssima complexidade. É meio ridículo tentar comparar o sistema político chinês com o de alguma republiqueta de bananas. As evidências têm nos mostrado que são universos completamente diferentes. Se em uma república de bananas impera a anomia, com o poder concentrado em uma família, em algo muito mais parecido com o que observamos em monarquias absolutistas e teocêntricas, como uma Arábia Saudita da vida, por exemplo; na China o processo é completamente diferente. É outro universo. É outra dimensão. 

A China tem mais de 4 mil anos de civilização em tempo contínuo e mais de 2 mil anos de burocracia. É uma das culturas e uma das burocracias mais antigas de toda a história e tudo isso em tempo contínuo. 

Derrubaram a monarquia em 1912 e, 37 anos depois, em 1949, superaram o capitalismo. Nos 23 anos seguintes sofreram com o embargo econômico dos Estados Unidos. E mesmo com essa cruel retaliação tiveram taxas médias de crescimento econômico anual de 6,5% na década de 1950 e de 4% na década de 1960, mesmo com todos os erros, já compreendidos e assumidos, que ocorreram durante o período da revolução cultural entre 1966 e 1976.

Com o objetivo de provocar um distanciamento entre China e União Soviética, em 1972 os Estados Unidos puseram fim ao embargo econômico, permitindo assim que a China saísse do isolamento e voltasse a comercializar com o restante do mundo. E é aquela história. Se o socialismo tem tudo para dar errado, para que fazer embargo econômico? Se o socialismo tende a ser um desastre, porque não deixam os países socialistas em paz? Por que os Estados Unidos sempre tentam isolar esses países do restante do mundo, sufocando-os economicamente? 

Esse retorno da China ao comércio mundial se consolidou com a política de "Reforma e abertura", de Deng Xiaoping, em 1978. 

Desde então as taxas anuais de crescimento são de 7.9% durante a década de 1970, 9,5% durante a década de 1980, 10,6% durante a década de 1990, mais de 10% ao ano durante os anos 2000 e de 7,7% entre 2010 e 2019. 

Então, a partir de 1978, com a permissão dos Estados Unidos para voltar a fazer comércio com o mundo, a China começou a construir um socialismo singular, que também permitia um significativo empoderamento do setor privado, do mercado, da lei da oferta e da procura. Porque o mercado também possui suas virtudes: de produção acelerada de riquezas, autorregulação, concorrência e vários outros princípios já muito bem conhecidos desde a ascensão do capitalismo. 

Porque o socialismo não é a negação do capitalismo. É sua assimilação e superação. E está passando da hora do mundo todo fazer o mesmo: também ser capaz de superar o capitalismo e permitir que adentremos um outro estágio de humanidade e civilização, muito mais preparado para os desafios que estão pela frente. É socialismo ou a barbárie!

É socialismo ou a barbárie (1)

Cheguei em um ponto de minha vida no qual já não acredito mais (tanto quanto acreditava antes) na democracia liberal, nas democracias ocidentais.

Com isso não estou querendo dizer que devemos implantar um regime autoritário em nosso país, de modo algum. Não sinto isso como minimamente factível e nem desejável. Não é disso que estou falando e quem quiser confundir o fará de modo intencional e até maldoso. Só estou querendo dizer que durante toda a minha vida, até alguns meses atrás, eu ainda acreditava muito no modelo liberal de democracia.

Antes eu era bem mais otimista do que sou atualmente. Antes eu sentia que havia a real possibilidade de mudanças importantes por meio desse modelo. E de uns meses para cá tenho me tornado mais pessimista em relação a isso, porque o problema é mais embaixo. No papel somos uma democracia, existe liberdade de expressão, de participação política. A Constituição Federal é a constituição cidadã.

Mas é uma constituição que, com seus quase 35 anos de existência, ainda não fez valer muita coisa importante. Muito do que está previsto em nossa Constituição ainda está longe de ser cumprido. E cito somente um dos pontos que para mim é mais emblemático: a questão do uso social da terra. 

Se nós de fato cumpríssemos o que está na Constituição, eu tenho a impressão de que já era para ter ocorrido a reforma agrária. E estamos muito longe disso. A concentração de terras nas mãos de poucos ainda é obscena e os níveis de desigualdade social em nosso país ainda são indecentes. 

Outra coisa que também me preocupa bastante, senão a que mais me preocupa, é a questão ambiental, no mundo todo. A crise climática já está aí. É um trem colossal, em alta velocidade, que precisa imediatamente parar. Essa não será uma tarefa nada fácil. É o maior desafio para a humanidade em séculos, quiçá milênios. E eu não tenho a menor esperança que com esse modelo de democracia conseguiremos alguma coisa, porque em tese é um modelo muito bonito, mas na prática tem se mostrado um modelo refém de grandes interesses econômicos e lobbies.

Quem manda no mundo capitalista é o poder econômico. Quem manda aqui no Brasil, e até naquilo que muitos acreditam que seja a maior democracia do mundo (os Estados Unidos), é o poder econômico. E lá atualmente, mais do que nunca, eles estão muito mais próximos de um sistema totalitário de direita do que nós. Mas assim que eles caírem, caímos junto. E eles estão nitidamente caindo. 

O poder absurdo que os bilionários e as big techs alcançaram é algo que não me deixa nada otimista. Esses caras agora mandam e desmandam no mundo ocidental e em todas as democracias liberais. Quem manda e desmanda hoje em qualquer sociedade capitalista é esse povo. 

E aí eu fico aqui torcendo para haver alguma alternativa. E quando se fala em alternativa, me perdoem, mas só consigo pensar no quê? Sim, na China.

Pensem por favor comigo na crise climática. Vocês acham que conseguiremos resolver a crise climática com bilionários que só pensam em perfurar poços de petróleo? Vocês pensam que é possível resolver a crise climática sendo refém de lobbies do poder econômico?

Há quem diga que talvez seja impossível viver em um mundo sem lobbies. Mas fico pensando que talvez não seja impossível não, e fico pensando que uma sociedade como a chinesa não é refém de lobbies. Se eles existem lá, são muito fracos.

Perto de uma sociedade como a nossa, a sociedade chinesa é tecnocrática. E há quem veja um perigo enorme na tecnocracia. Mas querem saber? O que o mundo mais precisa hoje é disso, é de tecnocracia. E sinto que o pesadelo que vivemos durante a pandemia talvez tivesse sido o suficiente para nos darmos conta disso. Mas parece que a maioria das pessoas não se deu conta disso. Faltou-nos um pingo de tecnocracia, e com isso o saldo foi o que vimos: cerca de 400 mil pessoas mortas por uma liderança ignorante, que não ouvia o a ciência, os técnicos da área. E eu falo em 400 mil mortes porque estou falando do saldo a mais. Porque se o Brasil tivesse se enquadrado nas médias mundiais de óbitos, teríamos tido somente umas 300 mil mortes e não todo aquele horror bizarro que vivenciamos.

A crise ambiental atual demanda participação de todos os setores de modo equilibrado e não como ocorre em um país como nosso, no qual o setor privado deturpa tudo. Sim, deturpa tudo. Não tem cabimento um Congresso ser composto pelas pessoas que estão lá, que não representam os interesses da maior parte da população. Não tem cabimento o poder que esse povo tem para fazer pobre defender e votar em rico. Pobre de direita é uma excrescência que só é explicada pelo modelo no qual vivemos, onde praticamente todo mundo tem um preço.

No papel somos uma democracia, uma democracia liberal. Mas na prática é o governo de quem tem mais poder econômico. É uma plutocracia ou uma oligarquia. Dêem o nome que acharem melhor. Não é o governo da maioria.

Não adianta falar em liberdade de escolha se as pessoas não têm o mínimo de condições para produzirem escolhas mais conscientes. Quem não tem as condições mínimas de subsistência está longe de ter qualquer tipo de liberdade de escolha para qualquer coisa. Quem não tem uma formação política, acadêmica e cidadã mínima, não tem liberdade de escolha. 

E aí vai sempre aparecer alguém para dizer que o caminho é a educação e esse também é outro equívoco. O que manda num bom sistema educacional não é a educação em si. A educação não brota da educação. A história mostra que os maiores avanços em termos educacionais se deram na sociedades que conseguiram se desenvolver em termos industriais, que têm políticas industriais. 

O Brasil está há décadas a derivar no oceano do subdesenvolvimento principalmente por falta de políticas de desenvolvimento industrial. Praticamente não existe desenvolvimento sem desenvolvimento industrial, e será muito difícil também desenvolver um bom sistema educacional sem isso. 

E alguém pode ainda aqui dizer: mas em Cuba? Cuba tem altíssimos níveis de alfabetização e um excelente sistema educacional. Mas Cuba continua sendo também muito pobre e não se desenvolve. Claro, há obviamente o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, e esse é um fator crucial. Mas Cuba também sofre com um modelo pouco versátil de socialismo, ainda muito centralizado e baseado quase somente no estado.

Eu por enquanto creio que os chineses tenham encontrado o melhor equilíbrio entre os setores econômicos da sociedade. E também creio que eles não estão sozinhos nessa. Um exemplo claro de um país que tem seguido modelo semelhante me parece que é o Vietnã.

Há um equilíbrio entre os setores privado, misto e público na China. Cada um deles detém cerca de um terço das riquezas. 

Sim, o Estado na China é muito forte. E é bem mentirosa essa conversa de que o que mais atrasa uma sociedade é o Estado.

Somente o estado investe onde há mais risco e as maiores descobertas mundiais de nosso tempo e das últimas décadas foram todas fruto de investimento estatal. Acho muito tolo quem ainda acredita naquele papo furado de empreendedores de fundo de garagem. A China chegou onde chegou porque é um socialismo de mercado, ou um capitalismo de estado. Dêem o nome que quiserem. Eu obviamente prefiro chamar de socialismo de mercado porque acredito que estamos vivendo um contexto de esgotamento do modelo capitalista. Esgotou, já era. Se continuarmos nessa, não conseguiremos sair desse lamaçal da crise ambiental, que está somente começando. Por quê? Porque quem manda aqui é lobby, meu irmão. E os grandes interesses econômicos estão pouco se lixando para o bem-estar comum. E é por isso que a ganância tem que ser o tempo todo regulada pela mão de um Estado forte. Ou é isso ou é a barbárie. 

É socialismo ou a barbárie!

Não tente conquistar ninguém

Tentar conquistar o amor ou a amizade de alguma pessoa, em específico, costuma ser furada. Faz mais sentido tentar melhorar nossas habilidades sociais e atributos, que possam fazer com que mais pessoas se simpatizem por nós.

Pessoas que não gostam da gente tenderão a continuar não gostando. Em muitos casos o tempo de convivência coloca a pessoa na realidade e ela percebe que não éramos aquilo que ela pensava. Depois desse tempo de convivência, se essa pessoa continuar não gostando, provavelmente ela nunca irá gostar de você.

Não faz sentido ficar correndo atrás de ninguém. É importante o autocuidado, que envolve cuidados com a saúde e com a aparência, e tentando se manter sempre bem no sentido das capacidades de lidar com os outros de modo saudável e gentil. Então é importante sempre estar saudável, não se descuidando da aparência, e se manter também como uma pessoa agradável, de modo geral, na relação com os outros.

Feito isso, o resto é com o destino. O resto será obra do tempo e das vicissitudes da vida, para a qual não cabe a fixação em uma pessoa especificamente. Primeiramente porque a obsessão é coisa de gente doente. Não tem que ser especificamente aquela pessoa. Cuide de seu jardim, que o cheiro de suas flores, os ventos e os destinos da vida trarão algumas abelhas. Mas não necessariamente aquela abelha com a qual você sonhou. E mesmo que apareça essa abelhinha com a qual você sonhou, pode acontecer dela não ser aquilo tudo que você pensava. Porque ter sempre sonhado com alguma coisa específica é algo que concorre consistentemente para aumentar a probabilidade de que você se frustre.

Um ensinamento importante do estoicismo é o de que devemos aceitar o que não pode ser mudado. Isso também vale para os amores e as amizades, para nossos círculos sociais e afetivos. Se passado um tempo considerável de convivência, mesmo assim aquela pessoa continua não gostando de você, ela provavelmente nunca terá simpatia por sua pessoa. 

Quando lhe pedir um favor, que lhe custe algum sacrifício, depois do sacrifício você receberá somente um "valeu", bem seco. E se você lhe responder que não tem condições de fazer tal sacrifício, essa pessoa deixará você falando sozinho antes mesmo que você justifique seus motivos. Porque é exatamente assim que funciona o desamor. E que para você não deveria ser motivo de revolta, porque é de onde menos se espera que vem sempre o mesmo resultado: nada ou muito pouca coisa. 

Pessoa alguma jamais deveria ser alçada ao posto de última coca-cola do deserto. A última coca-cola do deserto é a ante-sala da extinção sumária das coca-colas. Se chegou nesse ponto é porque já estava fadado a não sobrar mais nada.