Tuesday, February 18, 2025

A maldade

Há pessoas, muitas pessoas, que sei que não são más. Ou não são terrivelmente más. Mas que já me fizeram muito mal. Por medo ou mágoa de mim. Por ignorância ou egoísmo. Por pequenez de consciência. Ou talvez mesmo por terem razão, por eu merecer e não saber.

E há pessoas que pouco conheço e que nem tenho coragem de conhecer melhor. Porque infelizmente tive delas indícios, para mim muitos sérios, de que são realmente maldosas. Quando vejo o que me assusta, crio uma barreira protetora, raramente criada entre mim e qualquer pessoa, porque sou um ser tranquilamente aberto ao contato humano, para conhecer melhor quem quer que seja.

E essa barreira felizmente me transforma por completo. Adquiro, espontaneamente, a capacidade de ficar, imóvel, porque acende-se um alerta de perigo, a me avisar constantemente que com aquela pessoa devo ter muito cuidado. 

Nunca me fez mal algum, mas diante dela coisas horríveis ocorreram. Têm cheiro de algo muito errado. Estão sempre no centro de alguma confusão, no meio de transações obtusas, de jogos ardilosos de poder. Desprezam, tratam com violência e sorriem sadicamente para os vulneráveis. São afáveis e calorosos com pessoas poderosas. 

Com quem se comporta assim, sinto que todo cuidado é pouco. Somente observo. E tento tocar o rebanho inocente de minha vida adiante. Porque também sei o quanto sou vulnerável e você, pessoa malvada, que se regozija em ser assim, você não me engana.

Monday, February 10, 2025

Gatilhos

Há sintomas dos quais padecem as pessoas, que estão com transtornos mentais severos, que são inacreditáveis. Se alguém me dissesse que uma outra pessoa não tem condições nem mesmo de ouvir algo um pouco nojento, e que a partir disso literalmente vomita, eu não acreditaria.

Eu conversava com uma colega, no CAPS, que me perguntava detalhes sobre uma técnica de laboratório de análises clínicas. Ela queria saber mais especificamente como era a técnica Harada Mori. Essa técnica implica na coleta de uma amostra de fezes e sua parcial diluição em água destilada, formando-se assim um creme, como se fosse uma espécie de milk shake de fezes.

Um paciente estava perto, ouviu o que eu falava e saiu imediatamente do recinto, correndo em direção ao jardim, para vomitar.

Pensei: "não é possível. Ele deve estar somente emitindo aqueles reflexos de vômito".

Para minha surpresa, quando cheguei perto vi que estava de fato vomitando.

Pedi-lhe desculpas e deixei claro que a partir de então eu iria sempre tomar o máximo de cuidado para verificar se ele não estava por perto quando o assunto se remetesse a algo parecido, para que não tivéssemos mais um infortúnio como esse.

Para uma pessoa que está severamente adoecida os cuidados devem ser redobrados. Para outras pessoas, que simplesmente exigem que existam alertas de gatilho para quase todo e qualquer tipo de assunto, penso que elas também devem ser informadas de que precisam sim ir enfrentando, aos poucos, o que elas estão caracterizando como gatilhos. Porque a cultura do gatilho é extremamente enfraquecedora e adoecedora. Quanto mais nos esquivamos e nos protegemos daquilo que consideramos como gatilhos, mais fracos nos tornamos para o que nos é aversivo. 

Superproteção é uma coisa enfraquecedora. Superproteção institucionalizada é algo desastroso.

Covardia

Não consigo pensar ou sentir de outra maneira. Sempre que vejo alguém defendendo bilionários ou gente rica, de modo geral logo penso comigo mesmo: esse sujeito é um bunda mole, um covarde. 

Porque é um sinal imenso de covardia ficar do lado mais forte. As ideologias que pregam isso são sustentadas eminentemente por pessoas profundamente covardes.

- Você não tem vergonha na cara de ser tão covarde, tão bunda mole? - é o que tenho vontade de lhes perguntar.

E outro ponto também é que não se trata somente de covardia. Mas também de mesquinhez existencial, de egoísmo existencial. São pessoas que não querem ter dúvida em relação a se dar bem às custas de outras, que estão mais vulneráveis. Não têm o mínimo de grandeza de espírito para aceitar que o outro também pode ter os mesmos direitos que elas. Detestam a igualdade. 

E acrescente-se a isso o fato de que a defesa de bilionários também soa como um comportamento interesseiro, típico de puxa-sacos. Porque puxa-saquismo é refúgio comum de gente covarde.