Friday, July 19, 2024

Chefe despótico

Uma vez tive um chefe despótico, ignorante, ríspido, insensível e burro. Ninguém mais aguentava seus desmandos e abusos. Em reunião, na presença de uns 50 subordinados, ele foi enfático:

- Não sou apegado ao cargo. Quem quiser que se candidate e concorra!

Eu estava tão cansado daquela pessoa, que fui um pouco suicida. Levantei a mão. Ele olhou pra mim e me concedeu a palavra:

- Eu quero!

- Quer o quê? - perguntou ele.

- Você não acabou de dizer que não é apegado ao cargo e que quem quisesse devia se candidatar e concorrer? Pois é: eu quero. Quero ser chefe.

- Então você que se vire e vá atrás. Não estou aqui para ensinar o caminho das pedras pra ninguém – respondeu, constrangido, sem graça, talvez porque não estivesse esperando que algum biruta levantasse a mão para dizer aquilo.

Minutos depois começou a falar mal de mim, de que eu tinha sido agressivo, com o microfoninho na mão. E achou que eu ia ficar quieto, tomando o sermãozinho que ele passava em muitas pessoas, humilhando-as em público.

Levantei a mão e ele ignorava. Auditório cheio. Levantei-me e fui até o palquinho no qual ele vinha dando seus showzinhos havia anos.

- Não vou te dar a palavra! – e não deixava eu pegar o microfone.
Quase virou briga pelo microfone. Eu tentava pegar e ele esticava o braço. Por fim, ele acabou me passando o microfone. E eu falei o que tinha de falar, defendendo-me.

Voltei para meu lugar. E ele continuou com seu discurso raso, contraditório e sem qualquer relação com a realidade. Por sorte não tocou mais em meu nome. Agora tentava mostrar que existia diferenças cruciais entre o discurso de um líder e de um chefe, pois o primeiro seria democrático e conciliador. 

Todos se olhavam, constrangidos, porque aquilo era tudo o que aquela pessoa mal formada não era. Todos sabiam que aquele imbecil, segundo seus próprios critérios, era o que ele mesmo chamava de chefe, de liderança autocrática. Mas ninguém mais teve paciência ou coragem para qualquer tipo de confronto, nem eu. Estávamos todos exaustos.

Coincidência ou não, depois de anos de mão de ferro, 20 dias depois dessa reunião esse chefe adoeceu ou pediu um arrego, um atestado. Ficou uns dois meses afastado, e depois ainda continuou na chefia por cerca de mais um ano. Mas aquelas reuniões torturantes, toda maldita semana, nunca mais ocorreram. Compensou ter quase trocado tapas com ele na disputa por aquele microfone!

No comments: