Da observação de muitos de meus pacientes, no CAPS, levantei a hipótese de que tabagismo e ingestão frequente de café poderiam ter um papel no desencadeamento de sintomas e crises psicóticas. Porque tanto o tabaco quanto o café aumentam a liberação de dopamina que, em excesso, no corpo estriado, está associada significativamente a transtornos psicóticos.
Comecei então a pesquisar, e encontrei um estudo, publicado no The Lancet Psychiatry em 2015. Trata-se de uma metanálise que contemplou 61 pesquisas, com uma amostra composta por 14.555 usuários de tabaco e 273.162 não usuários. Esta pesquisa concluiu que “o uso diário de tabaco está associado ao aumento do risco de psicose e a uma idade mais precoce para o início de um transtorno psicótico”.
Em relação ao café encontrei dois estudos. O primeiro é um estudo de caso, publicado em 2009. Em sua revisão da literatura científica traz evidências de que “a cafeína piora a psicose em pessoas com esquizofrenia, e causa psicose em pessoas saudáveis”. Os pesquisadores relatam um caso de psicose crônica, aparentemente induzida por cafeína, “caracterizada por delírios e paranoia em um homem de 47 anos com alta ingestão de cafeína”, que entrou em remissão após 7 semanas de diminuição da ingestão de cafeína, e sem uso de qualquer tipo de medicação antipsicótica.
O outro estudo sobre a ingestão de cafeína é de 2015. Os pesquisadores apresentam “dois casos que mostram a capacidade da cafeína de induzir sintomas psicóticos e maníacos”, e também fazem uma revisão sistemática da literatura científica sobre as manifestações psiquiátricas induzidas pela cafeína. Os pesquisadores sugerem que a cafeína pode estar relacionada não apenas a sintomas psicóticos ou de humor que são desencadeados pela primeira vez em alguns pacientes, “mas também ao agravamento de distúrbios psicóticos ou de humor pré-existentes”. Concluem então “que o consumo de cafeína entre pacientes com sintomas psicóticos ou de humor deve ser avaliado cuidadosamente na prática clínica, como parte das avaliações psiquiátricas de rotina”.