Sunday, May 08, 2016

A cusparada de Jean Wyllys em Jair Bolsonaro

Jean Wyllys cuspiu em Jair Bolsonaro. Concordo que, em termos éticos, um pouco de saliva no rosto é bem menos grave do que o elogio público a torturadores confessos. Mas não há, legalmente, como justificar o início de uma agressão física.

Conheço algumas pessoas que são simpatizantes de Bolsonaro e que agora, de certo modo, estão se simpatizando ainda mais com ele. Estão classificando a atitude de Jean Wyllys como descontrolada, histérica, passional, quebra de decoro e uma série de outros qualificativos depreciantes.

Ainda não li nada de alguém mais indeciso ou que não conheça esses dois políticos mas eu, se não conhecesse nenhum dos dois, estaria vendo somente uma pessoa descontrolada, e com ódio, agredindo a outra.

Uma pessoa pública que prega a tolerância, na minha compreensão, deve se dedicar ao cultivo da temperança, da moderação e jamais cometer o erro de iniciar uma agressão física. É fundamental se concentrar na defesa de ideias e evitar manifestações impulsivas.

Tem que ter muito sangue de barata? Sim, tem que ter muito sangue de barata, bom humor e jogo de cintura, senão talvez não faça muito sentido entrar na carreira política. Tem que ser mais político, Jean, bem mais malandro do que você é. Acho que está faltando um pouco mais de alegria, de despreendimento, do espírito da esquerda festiva que parece ter se perdido bastante nos últimos anos.
E se quisermos o diálogo, e o entendimento com quem pensa diferente de nós, talvez tenhamos que meditar bastante (não é pouco não) sobre frases como essa, de Emily Brontë:

"Se a mais vil das criaturas me esbofeteasse, eu não lhe retribuiria a ofensa, mas lhe pediria desculpas por tê-la provocado."

Sei que a frase de Emily Brontë se aplica muito bem ao contexto individual de uma resolução de conflitos, de quando de fato queremos entrar num acordo com algum agressor. Mas creio que ela pode também nos ensinar bastante sobre assertividade, sobre como é possível nos posicionarmos sem ofensas e sem agressões, sobre como é possível nos posicionarmos em um nível de compreensão e de domínio da situação que está acima do que um agressor é simplesmente capaz de fazer.

A minha impressão é que em uma democracia não existem inimigos, existem adversários. Inimigos devem ser destruídos. Com adversários devemos dialogar ou negociar. Os caminhos a serem construídos para melhorar as condições de vida de nossa população terão de ser pautados pela racionalidade, por muita negociação e diálogo. Discursos agressivos e ofensivos somente afastam ainda mais quem tem divergências conosco.

E parte do problema é que hoje, no Brasil, muitos políticos canalhas estão ganhando o jogo no terreno legal. São canalhas legalistas. Estão levando a parada porque estão do lado da lei. São imorais e estão do lado da lei.

Moral ou imoral, quem não for calculista, e não souber agir em conformidade ao ordenamento legal, estará agindo de modo pouco racional, e vai perder o jogo. Aliás, já está perdendo.

E esse jogo não deve ser jogado somente para os torcedores do nosso time. Bolsonaro e cia vão alegar que foi sério o negócio, valorizando o máximo que puderem do ocorrido, afirmando que foi heterofobia, uma tentativa de homicídio cusposo ou algo parecido rs...

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