Saturday, September 05, 2015

A loucura nossa de cada dia

Tenho e já tive sintomas de vários transtornos mentais. Tenho pensamentos horríveis. Penso, com muita frequência, coisas absurdamente horríveis, trágicas e violentas. Quando eu era criança esses pensamentos me assombravam. Em uma determinada época se transformaram em obsessões e, de certo modo, sofri, muito, de algo muito similar a um transtorno obsessivo compulsivo (TOC). E isso me acometeu misturado com angústia e tristeza. Com 13 anos de idade, em 1985, vivi o pior ano de minha vida, e tive de procurar auxílio. Fiz psicoterapia e tomei um antidepressivo e um ansiolítico.

Depois fui me habituando com todos os pensamentos horríveis que eu pude ter nessa vida. A fábrica não para. Tenho uma imaginação muito fértil, e eles sempre se renovam. Sempre adquiro novos pensamentos absurdamente tristes e horríveis, que exploram e viajam nas mais variadas e absurdas possibilidades de ocorrências extremamente trágicas que podem ocorrer na vida de qualquer um de nós. Porém, como já disse, há muitos e muitos anos que esses pensamentos não me assustam mais. Simplesmente deixo que aconteçam e vou me acostumando com eles. ´

Mas também tenho alguns sintomas psicóticos para os quais não dou muita atenção. Não fico alimentando-os. A melhor forma de lidar com pensamentos que tem uma característica mais delirante ou alucinatória é simplesmente não se isolar em seu próprio mundinho e conversar com as pessoas, ouvindo opiniões diversificadas. Às vezes até devaneio um pouco e me regozijo com alguns pensamentos que classifico como fascinantes e divertidos, ótimo material para o exercício imaginativo e narrativo próprio ao universo das ficções.

Às vezes penso que o mundo é uma ilusão parecida com a de filmes como “Matrix” ou “The Truman Show”. Fico pensando que estou num grande cenário, em um grande esquema ou programa de computador, e que estão jogando comigo, colocando e tirando as pessoas da minha vida, me observando e o tempo todo fazendo testes comigo.

Às vezes, por exemplo, quando não sinto um clima muito bom em algum ambiente que frequento, penso que algumas pessoas estão muito incomodadas comigo, mas ao mesmo tempo não se rebelam, não chegam em mim e dizem o que está acontecendo, porque estão em um outro plano do jogo, em um plano adversário ao meu, e que elas de alguma forma têm medo de mim porque estou associado a algumas figuras poderosas desse plano superior e oculto. Depois observo outras pessoas que são muito benevolentes e fico imaginando que são alguma espécie de enviados, ou coisa similar, que estão aparecendo em minha vida para de fato lutarem por esse lado da força no qual me encontro.

Depois penso que as várias dificuldades que já passei na vida estão na verdade funcionando como uma espécie de treino para que eu possa enfrentar algo muito importante ainda daqui a algum tempo. E esse futuro estrondoso nunca chega. Quanta espera, quanta demora!

Acho que muitas pessoas chegam a cogitar essas possibilidades ou pensar coisas muito parecidas e de fato uma pequena minoria é que embarca de cabeça em suas teorias individuais e acabam surtando. Como não alimento muito e dou pouca atenção, isso acaba se transformando na verdade numa grande diversão, a qual torna meu mundo e minha própria narrativa pessoal um pouco mais lúdicos.

Hoje mesmo tive a impressão de que duas pessoas completamente desconhecidas, às quais não têm a menor ideia de como me chamo, me chamaram pelo nome, como se quisessem me transmitir, de modo cifrado, alguma mensagem que seria muito importante para o nosso lado da força.

Estou inclusive comunicando aqui essas sensações e impressões porque acho especialmente divertido comunicá-las. Fico imaginando o quanto o isolamento social é enlouquecedor. Uma pessoa isolada, que não se comunica de modo significativo com as outras e vivencia uma fratura na relação com os outros, está muito mais suscetível ao enlouquecimento. Imagino que muitos aqui se identificaram com esse meu texto. Ou eu estou ficando louco rs?

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