Aquele serzinho, que está há um ano e meio nesse mundo, fala uma ou outra palavrinha isolada, mas compreende um monte de coisas das quais você não tem a menor ideia de que ele seja capaz.
Estávamos uma vez, há mais de um mês, eu e minha filha, assistindo ao Tom e Jerry. Era a primeira vez que ela assistia a esse desenho. Um grande leão havia fugido do circo, e se abrigado na casa de Tom e Jerry, se tornando um grande amigo do rato. No final Jerry inclusive o auxilia a pegar um navio de volta à África, onde voltaria a ser livre.
Quando o navio está partindo, Jerry se despede, acenando com um lencinho na mão, em lágrimas. Minha filha aponta para a tela e chora junto, com um choro verdadeiro e sofrido, com lágrimas. Acho que essa foi a primeira produção cinematográfica que a embalou, a envolveu, com a qual ela se emocionou junto.
E ninguém havia explicado a ela que o leão estava indo embora, que aquilo era uma despedida. Claro, ela detesta despedidas. A palavra que não deve ser dita aqui em casa é “tchau”, principalmente se você estiver andando em direção à porta de saída. Mas ela foi capaz de generalizar os gestos para uma representação pictórica bem específica. Para isso muitas crianças da sua idade são capazes, e é exatamente disso que nós nos esquecemos.
Nunca calibramos muito bem. Civilizações antigas, crianças e animais não-humanos: quando pensamos nessas três categorias sempre tendemos a errar em nossas estimativas.
Os antigos são sempre subestimados, e há até teorias conspiratórias a afirmar que não fizeram o que fizeram de grandioso – seria obra de extraterrestres. Crianças e animais que não amamos também são subestimados. Com amor na jogada a estimativa costuma se inverter.
E também, há poucos dias, a televisão estava ligada em algum noticiário esportivo. Ao observar a cena de um jogador fazendo um gol, levantando os braços e comemorando, ela também levantou os braços, saiu comemorando e, para botar uma cereja no bolo, gritando gol. E olha que aqui em casa ninguém comemora gol, ninguém se liga muito em futebol pela televisão, pois sempre preferi jogar a assistir.
Isso tudo é muito divertido...
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