Cada
vez mais me convenço de que é a coisa mais importante na vida de um ser humano
são outros seres humanos.
Há uma
distinção entre solidão e isolamento que talvez seja interessante de ser feita.
Fundamentalmente todos somos sós. O fato de ninguém poder viver por nós (e
ninguém pode viver exatamente o que vivemos, seja no prazer ou na dor), de
existir a individualidade, define uma solidão fundamental da qual não há como
fugir. Por existir a individualidade, somos todos então inevitavelmente sós.
Desse modo é portanto possível traçar uma distinção para com o isolamento, o
qual teria um caráter mais evitável.
Mas a
minha questão principal é a seguinte: quem são, como são os sobreviventes do
completo isolamento social?
Sabemos
que na infância, principalmente dos 0 aos 7 anos de idade, o completo
isolamento social provoca danos imensos ao desenvolvimento humano. Existem
períodos críticos, janelas de desenvolvimento. Se a criança não adquirir uma
determinada habilidade em um determinado período específico, muito dificilmente
irá adquiri-la depois. O caso da linguagem costuma ser emblemático. Criança que
não aprende a falar até os 5 anos de idade, dificilmente será capaz de adquirir
essa habilidade posteriormente.
Na
idade adulta, o completo isolamento social precisa de algumas estratégias
eficazes de compensação, senão a tendência é desembocar na loucura.
Portanto,
a minha compreensão é que crianças não escapam sem dano do completo isolamento
social. E os adultos que escapam só o fazem porque na verdade não estavam tão
isolados assim. Psicologicamente sobrevivem pelas artimanhas de algumas formas
de solilóquio ou obras de arte, os quais continuam de certo modo produzindo a
trama das interações sociais.