Segundo Comte-Sponville, “a felicidade não é nem a saciedade (a satisfação de todas as nossas propensões), nem a bem-aventurança (uma alegria permanente), nem a beatitude (uma alegria eterna).” Comte-Sponville.
Ou seja, neste sentido, todas estas três concepções acerca do que seja a felicidade são equivocadas. A primeira e a segunda concepção são as mais comuns. São talvez também (vejam a ironia) as que produzem mais infelicidade. Produzem infelicidade, primeiramente, pelo simples fato de serem equivocadas. Assim, geram falsas expectativas, o que, por sua vez, é mais do que suficiente para a ocorrência de alguns desastres e surpresas desagradáveis. Quem não se prepara com perspectivas realistas está sujeito a surpresas desagradáveis.
As concepções de felicidade como a satisfação de todos os nossos desejos ou uma condição de alegria permanente são pouco refletidas, sensatas ou até mesmo infantis. Há o pensamento mágico implícito aí, de que diversas situações complexas podem ser resolvidas com atos simples e instantâneos, os quais dispensam qualquer explicação, esforço ou processo. Em termos psicanalíticos seria a fantasia de retorno ao estado original do recém-nascido que se satisfaz e se ilude acerca de sua própria condição de ser. Tendo suas necessidades satisfeitas, é tomado por sentimentos de onipotência, plenitude e invulnerabilidade (o narcisismo primário). Onde nem mesmo o mundo externo (incluído aí o outro) se configura como perceptível (como outro) e capaz de aniquilá-lo.
Seguindo as pistas dadas por Freud em “O mal-estar na civilização” (1930), podemos dizer que a busca por esse tipo de felicidade é um modo de se apartar da realidade. Acreditando nesta possibilidade absurda, o sujeito nega a realidade que o circunda, e passa a se devotar a uma fantasia infeliz. Trata-se de uma fantasia que abre mão da consciência e instala o sujeito em um terreno sem qualquer sustentação. Sim, constrói castelos no ar. São concepções bastante otimistas acerca do que seja a felicidade. Otimistas e míopes. Otimistas e bem pouco esclarecidas. Aliás, como todo otimismo extremo e equivocado.
3 comments:
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há um apontamento nos estudos gnósticos que diz
"todo extremo é satânico..."
sendo assim, não pode existir a sensação de felicidade permanente
outro apontamento diz "o mundo é a dualidade", tudo é em duplo
a gasolina da mente é um contra-ponto, uma balança... ela apenas julga
por isso, há um apontamento-gnóstico mal traduzido que deve ser corrigido (urgentemente):
o "não julgais".... para "não condenarás..."
é impossível não haver julgamento, no sentido de comparação...
vejo q se chegar uma hora de permanente-felicidade, num piscar de olhos
as coisas vão ficando aos poucos um saco... a mente é capaz de "arranjar" um problema
mesmo com coisas prazerosas e favoráveis.
a mente é como se fosse um terrorista morando dent ro de alguém, vive falando
a nunca cala a boca... numas horas deviamos berrar pra si mesmo um son oro
"CALA BOCA GALVÃO..."
tai, vou usar esse chavão para orientar estados meditativos...
alem de um terrorista, um macaquinho, temos um "galvão bueno" dentro de nós...
ahauhaua...
x.
(xoomei@uol.com.br)
Felicidade é Consciência.
Infelicidade é a falta dela...
O Ser Consciente é feliz exatamente por saber que os três estágios citados são ilusórios.
parabéns pelo blog, pelos textos e pela Consciência!!!
Tomei a liberdade de postar seu tópico "Onipotência Divina" no meu blog e fiz alguns comentários.
Quando possível, nos visite e deixe seus comentários também, Só vão enriquecer nosso espaço!
Obrigado e mais uma vez parabéns!!!
http://gruponossacasa.wordpress.com/
Nossa, Adriano, o mais triste é que todos nós já passamos por isso, por esse narcisismo exacerbado e que se engana querendo essa tal felicidade absoluta!
Eu já fui assim. Já me curei bastante também. rsrsrs
Ainda conheço gente querida que está nessa: é tanto sofrimento!
Sorte sua que trabalha ajudando tantos que vivem nessa mesma condição...não é mesmo?
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