Esse provérbio toma, equivocadamente, a voz do povo por uma verdade inquestionável. E não há melhor maneira de uma mentira vigorar do que em coro, em grupo, em multidão cega. Minta bem, minta em grupo. Uma mentira, muitas vezes repetida, torna-se verdade. É o que dizia Joseph Goebbels, líder da propaganda nazista alemã. E é também o que sugere Nietzsche, ao dizer que a verdade nada mais é do que a mentira do rebanho.
E a voz do povo faminto por linchamento, por vingança, por pão e circo, por sangue? Do povo que entrega cegamente o poder a ditadores e corruptos? É também a voz de Deus? Não, de forma alguma. Neste sentido, mais cabe dizer que a voz do povo é voz do capeta. Já dizia Nelson Rodrigues: a unanimidade é burra. E também já sugeria Freud, sobre a psicologia das massas, que as multidões não pensam. Agem de modo muito volátil, seguindo simplesmente a trilha do movimento do rebanho. Passam do amor ao ódio em segundos.
Um exemplo notório é das torcidas de futebol. Se o ídolo não está jogando bem, estão babando cólera, e querendo linchá-lo. Se, de repente, ele faz o gol: redenção total. O vilão se transforma em herói em questão de segundos. Ausência completa de sensatez, memória e justiça.
Esse provérbio é conversa de demagogo, de político populista. Dizendo isso, fica muito mais fácil angariar simpatias e votos.
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