Monday, November 14, 2005

O NINJA 5 (Série Colegas de República)

Hans, apesar de holandês, tinha requebrado. Um requebrado muito esquisito, mas que tinha seu estilo. Tinha um jeito de dançar que era uma espécie de caricatura do estilo de Ney Matogrosso. Era uma coisa cômica e que deixava as mulheres confusamente excitadas. Riam e ao mesmo tempo se sentiam atraídas, seduzidas.

Enquanto dançava freneticamente, Ramon o apresentou à Júlia. Não passou despercebido. Júlia ria muito e não tirava os olhos do holandês, tentando imitar sua dança. Hans sabia que parecia ridículo, mas se divertia muito com isso. Tinha um ensinamento que há muito tempo carregava fielmente consigo: “O ridículo move o mundo”. Sabia que todos nós estamos condenados infalivelmente ao ridículo e que este, quando aceito e assumido, é o veículo de uma existência mais lúcida e alegre.

Ramon lhe daria uma carona. Júlia iria junto. No caminho até o carro, ela avistou uma mangueira.

“Nossa, olha só, tá carregada de mangas maduras...”

Hans correu bastante e, em grande velocidade, escalou a mangueira, colhendo uma manga grande e bonita. Júlia surpresa, sorriu como a receber um dos melhores presentes daquela semana.

“Obrigada”, com o olhar vidrado.

No caminho conversaram algumas banalidades e nada mais. Isto fora numa quarta à noite.

Sábado, sete e meia da manhã. Hans ainda dormia. A campainha tocou: era Júlia.

“Oi. Desculpe, você estava dormindo, não é? É que havíamos combinado de caminhar no parque, lembra?”

“Ah, sim, sim”, não se lembrava de porra nenhuma. Estava bêbado.

Tomaram café juntos. Deram muitas risadas.

“Ei, Hans. Você tem baseado? Vamos levar um pouquinho.”

Caminharam bastante. Depois subiram em uma mangueira bem frondosa e lá começaram a fumar um baseado. Hans agiu rápido e tentou, sem muitas demoras, dar-lhe um beijo.

“Nossa, que pressa. Nem conversamos direito e você já vem logo querendo me beijar. Não beijo estranhos.”

“Ah, baby. Você me acorda às sete e meia no sábado pra ficar me recusando um simples beijinho.”

“Vocês homens são todos iguais. Só pensam nisso.”

Preferiu relevar, contornar a situação. Não engrossaria com a menina. Afinal, caminhar de manhã cedo no parque e depois fumar um baseadinho com alguém interessante era algo agradável. Júlia era atriz, tinha boa conversa pra se jogar fora.

Passaram a manhã toda no parque. Hans enrolou vários baseados, pois Júlia queria sempre mais. Fazia de tudo para seduzi-la e nada. De repente:

“Vamos lá pra sua casa dar aquela trepada selvagem. Quero chupá-lo todinho...”

Então tentou beijá-la e ela esquivou-se.

“Pra quem quer dar uma trepada selvagem, um beijo não é nada.”

“Aqui não. Tem pessoas olhando. Gosto de privacidade, discrição.”

Foram pra casa. Ela pediu mais baseado. Fumou tudo o que ele tinha em casa também. Nunca vira alguém fumar tanto e ainda parar em pé. E ela conversava normalmente, nem parecia entorpecida, a não ser pelos olhos vermelhos, em escaldante magma, do olhar siderado e perdido no vulcão de si mesmo.

Por fim, no sofá da sala, beijaram-se. Hans levantou-se, de um só golpe, e correu para o quarto. Tirou toda a roupa e pulou na cama, completamente nu.

“Porra, velho. Pensei que fôssemos tirar um sarro aqui na sala”, lamentou Júlia.

Fumou mais um pouquinho, pensativa. E foi atrás de Hans. Chegando à porta do quarto:

“Você está pelado? Onde fui me meter? Que saco, vocês homens só pensam nisso!”

Bateu a porta foi-se embora, desiludida.

Três dias depois a campanhia de Hans tocou novamente. Agora às seis e quinze da manhã.

“Ah, Júlia, pelo amor de Deus, me deixe em paz.”

Foi para o quarto e deitou-se novamente.

Ela tinha uma cesta de mangas, bem cheirosas e no ponto. Deixou-as na cozinha e foi até a porta do quarto. Ficou observando-o dormir por alguns instantes. Tirou toda a roupa e deitou-se ao seu lado. Beijou-o até que acordasse.

“Júlia, afinal de contas, o que você quer de mim?”

Ela respondeu em uma única, rápida e insólita frase:

“Mete ni mim...”

4 comments:

Anonymous said...

Outra!? Esse Hans... :-D

Mina

Anonymous said...

Godverdomme, agora ta exagerando Facioli!Mijn naam is Hans,nao Casanova, nem Dom Juan.Daqui a pouco, eles vao me chamar de Ninja libidinoso...

nadja soares said...

está ficando cada vez mais interessante...gostaria de conhecer o Hans...
eheheheheheheheheheheh
beijo

Anonymous said...

Ninjitsu ajuda pra caramba hein?! Imagino ele de sapatilhas kung fu subindo a árvore num tiro só e de lá pulando numa pirueta com a manga na mão.
Uma vez eu dei uma maçã verde pra uma garota e os olhos dela brilharam como se fosse uma maçã de ouro... bem se eu tivesse habilidades ninja a história teria terminado outra.
Frank