Durante várias vezes, já tarde da noite, cerca de uma ou duas horas da manhã, eu ouvia um barulho muito diferente, de uma vara a ecoar no ar, ou de ferro raspando em ferro, como em um funcionamento rápido de engrenagens. Vinha do quarto de Hans, de onde brotava o cheiro usual de incenso e uma luminosidade vermelha. Aquele ruído, juntamente com a luz vermelha, era uma combinação a qual não pude decifrar. O que estaria fazendo ali? Um dia não resisti à curiosidade e resolvi bater à sua porta.
“Pode entrar”, respondeu, em alto e bom tom.
Ao abrir a porta este era o cenário: uma luz vermelha, ligada a um fio comprido, o qual se conectava à tomada. O quarto, totalmente vermelho, totalmente fechado e cheio de vapor no ar, quente como uma sauna. Cheiro forte de suor, misturado com incenso. O altar de orações de Hans bem à sua frente, com todos seus santos, orixás e imagens de diversas religiões. E Hans, em pé, somente de cuecas, bufando com força, espirrando suor e saliva para todos os lados, completamente absorto, em transe. Manipulando seu chiaco* como um ninja insano.
* Para quem não sabe, o chiaco (leia-se “tiaco”), é aquela famosa, cinematográfica, e adolescente arma oriental, muito utilizada e popularizada por Bruce Lee, constituída de dois bastões, ligados por uma corrente.
5 comments:
Caramba! E você sabe onde anda o Hans atualmente? Deve ter virado algum tipo de monge retirado do mundo no Tibeh. Ou sei lá, de repente algum tipo de Saduh, aqueles homens que vivem esquecidos de si, só na contemplaçao. O melhor de tudo é o contraste entre a elevação espiritual e o pezinho no trash. Pra mim, é melhor caminho para encontrar Deus.
Ainda convivo com o Hans... Mas, de fato, vc advinhou, ele sempre diz que quer virar monge...
Monge?...Ja pensei nisso, jawel...
Mas nao necessariamente no contexto do Budismo. Digamos, nao apenas nesse contexto.Na minha ultima pulsao monacal, o retiro potencial devia ser um mosteiro trappista, nas redondezas de Curitiba...
Não falei que ainda convivo com o Hans? Olha ele aí em cima... Um grande abraço, mestre...
Nuntchako
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