<> As galinhas caminham em fila indiana, vendo-me, sem me olhar. Na sua via-crucis de ciscar o dia todo e ter o sol morrendo e nascendo em suas veias. Caminham para o nada, fazem a vigilância de seu coração que bate, do pelotão indistinto de filhotes que cega e histericamente as perseguem. Seres rumando pro nada, fugindo do momento fatal à espreita. Sempre postas a correr de outros bichos. O que pensa uma galinha? O que pensa uma galinha? O que sente uma galinha? O que é uma galinha? Deselegante pássaro mutilado que não voa? Irritante comida histérica a qual toleramos seu crescimento de ciscar e andanças desajeitadas, cacarejadas e sem rumo? Ser infeliz, acessório humano exilado da seleção natural, prometido ao sacrifício frente aos nossos caprichos de fé ou paladar? As criamos e as destruímos, ou melhor, as devoramos, com a indiferença com que se corta uma grama ou se derruba um muro velho. Afinal, o que são as galinhas?>
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