Thursday, December 18, 2025

Eu não fico te analisando

Como psicólogo vez ou outra alguém me pergunta se eu, em minha vida cotidiana, não fico o tempo todo analisando ou diagnosticando as pessoas.

E quando pergunto a essas pessoas o que seria esse "ficar analisando" geralmente me respondem que seria algo parecido com o comportamento de ficar observando bastante e com atenção.

Porém boa parte delas, quando faz esse tipo de pergunta, não se dá conta de que a observação dos psicólogos é primordialmente a escuta.

Sim, em meu cotidiano acabo fazendo muito isso. Com frequência tenho uma curiosidade absurda em saber como certas pessoas estão vivendo, se virando e lutando para sobreviver ou ficar bem. 

Porém isso não ocorre com a maioria das pessoas com as quais interajo, porque tenho interesse em histórias de superação, em tentar compreender como que, diante de dificuldades, as pessoas conseguem superá-las. E essas dificuldades precisam ser diferentes das que eu já superei.

Ontem, por exemplo, eu conversava com uma pessoa que trabalha como agente penitenciário. Isso atiçou minha curiosidade em relação a como os detentos vivem e sobrevivem em um ambiente tão hostil e insalubre. 

Então uma coisa é certa: se eu estivesse ali conversando com um detento, iria fazer de tudo para tentar entender melhor como é sua vida, e essa escuta iria se repetir com outros detentos.

Então a análise que faço das pessoas, enquanto estou conversando com elas, não é assim tão diferente da análise/observação que várias outras pessoas fazem também, em sua interação umas com as outras, no cotidiano.

A diferença é que no cotidiano eu fico bem à vontade para praticamente fazer a pergunta que me der na telha, sem muita preocupação se minha questão tem ou não relação com uma escuta mais focalizada em ajudar. E também não me mostro concentrado na tentativa de empenhadamente estabelecer uma relação com o outro que é fundamentalmente uma relação baseada em trabalho intenso.

E se eu fico diagnosticando as pessoas?

Acho isso ridículo. Diagnósticos psicopatológicos são processuais. Ou seja: demoram muito para serem estabelecidos. Não é em uma conversinha ou outra que isso acontece, e não faz muito sentido se precipitar para que assim o seja. E essa coisa de diagnóstico, tendo o nome de um transtorno mental como rótulo, é algo muito mais próprio à profissão dos psiquiatras do que dos psicólogos.

Os psiquiatras precisam encontrar uma classificação diagnóstica para poder encontrar um medicamento correspondente. Os psicólogos precisam ouvir o máximo que puderem, para ter a compreensão mais completa possível, de uma situação que implica em um número muito grande de variáveis.

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