Friday, May 03, 2024

Rotina, no CAPS

Chego logo cedo e encontro com João, paciente que frequenta o CAPS há uns 7 anos. Ele canta bem. É afinado. Está vindo ao CAPS praticamente todos os dias nos últimos 10 ou 12 meses. É corredor de longa distância. Gosta de correr. Geralmente vem correndo de sua casa, que se situa a uns 5 km do CAPS ou mais. Não tem mochila. Vem correndo com um saco plástico numa mão, com seus pertences, e uma bíblia na outra.

- João, teremos sarau em 16/05. Você não quer cantar, não?

- De graça não dá, Adriano. Força as cordas vocais. Você sabe como é…

Horas depois cruzo com Dona Júlia, uma paciente muito divertida, com mais de 65 anos de idade, também assídua ao CAPS há uns 10 anos. Ela caminha com dificuldade e quase nunca perde seu bom humor e ironia refinada.

Sei os nomes e as datas de nascimentos de dezenas de pacientes. De modo geral qualquer pessoa, seja colega ou paciente, fica impressionada com isso. E saber o nome e a data pode agilizar bastante uma série de processos, porque não preciso ir até o paciente e lhe perguntar. Basta, a qualquer momento, lançar esses dois dados no sistema que instantaneamente tenho as informações de que preciso. 

- Júlia, agora consegui gravar sua data de nascimento: é 27/05/1958!

- Até que enfim, seu burro! Haja paciência! Não memoriza nunca! - com ironia precisa, certeira e dirigida a alguém que compreende o gracejo.

E assim juntos soltamos uma deliciosa gargalhada, geralmente acompanhada pelos demais presentes.

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