Muito tem se falado sobre merecimento. Eu também, por vezes, digo que alguém merece isso ou aquilo. Dou os parabéns, e digo “você merece”, para o campeão que percebo como tendo se esforçado e treinado muito ou para aquele que consegue fazer o que outros não foram capazes, por exemplo.
Mas aí, para esta segunda condição, muitas vezes me pergunto: se o sujeito já teve a sorte de nascer mais capaz ou mais inteligente, por que teria de ter também mais dinheiro?
Mas não costumo dizer que alguém merece sofrer. Porque não concebo o sofrimento como útil, mas somente como evitável ou inevitável. Assim como concebo o sofrimento como sendo o próprio mal. Então penso que ninguém merece sofrer, e que todos merecemos mudar para melhor, para sermos pessoas melhores, para nós mesmos e para os outros, ajudando assim a diminuir o sofrimento no mundo.
Sinto que ninguém merece ser tratado como rei, rainha ou deus. Ninguém merece ser deusificado. Porque ninguém é perfeito. Merecemos ser amados e lembrados. Mas não merecemos mais do que diz respeito ao que é humano.
E também não vejo sentido em alguém merecer luxos que custam o sangue e a vida de gente pobre e miserável. E, no mundo em que vivemos, ainda é geralmente, ou mesmo inevitavelmente, esse o custo de uma vida luxuosa.