Acabo de ler, aqui pela internet, a seguinte frase:
“Lembre-se de que todo cadáver, no Monte Everest, já foi um dia uma pessoa altamente motivada.”
Como muitos de vocês sabem, há centenas de corpos de pessoas que morreram durante a escalada, e que estão congelados no Monte Everest.
Essa frase é bastante interessante porque demarca muito bem o limite do entusiasmo, da motivação, do otimismo. Para se ter sucesso não basta estar motivado, entusiasmado, pensando positivo, com vontade de fazer as coisas. É necessário, antes de tudo, estar muito bem treinado.
Essa frase é interessante, porque é um soco no estômago da ideia de que o otimismo é determinante para alguma coisa nessa vida. O fato é que o otimismo não é determinante de nada. E não é determinante de nada porque ele não é o início. É o fim. Não é causa. É consequência. O otimismo é um efeito de interações favoráveis com o mundo e as pessoas.
As coisas não dão certo porque você está motivado, otimista. Você fica motivado e otimista porque as coisas estão dando certo. É esse o ponto principal, e que deve ser levado em conta. É justamente isso que essa frase impactante nos faz lembrar.
É óbvio que uma pessoa mais motivada irá produzir mais. Mas o ponto principal aqui é o equívoco das pessoas em acreditar que a motivação irá surgir do nada, ou de algumas estimulações que na verdade são bem pouco efetivas para fazer com que os outros fiquem mais motivados. Não adianta ficar falando que as pessoas têm de ser mais otimistas, porque isso é muito pouco efetivo para produzir mais otimismo. Assim como também não faz o menor sentido ficar falando que as pessoas têm de ser mais motivadas.
Aliás, nesse caso, o termo motivação é bem mais adequado que o termo otimismo, pois há uma compreensão melhor de que a motivação precisa ser produzida por meio de melhorias nos ambientes em que as pessoas atuam. Quando se fala em motivação, as pessoas compreendem melhor que ela não depende de pensamentos positivos ou inutilidades similares. Compreendem que é necessário fomentá-la, e que esse fomento preferencialmente ocorra com mudanças efetivas nas interações que as pessoas têm com o mundo e os outros. Se o ambiente é melhor, mais estimulante e acolhedor, a tendência é que as pessoas se sintam mais motivadas.
Quando utilizamos o termo motivação fica mais claro que não depende da própria pessoa para que ela seja mais motivada. Não basta ela pensar que ela tem que ser mais otimista ou mais motivada, porque a motivação não brota de si mesmo. Surge sempre de fora. A mudança, segundo as evidências mais sólidas, sempre se dá de fora para dentro, e não o contrário, como o senso-comum apregoa.
Acreditar no contrário é acreditar em geração espontânea. É acreditar em falsos agentes. É trocar o determinante pelo seu efeito. É mexer no lugar errado. É não compreender a distinção fundamental entre variáveis dependentes e independentes em relação a nosso comportamento. Serve para quem não quer mudar nada, para depois ainda jogar a culpa nas costas de alguém. Só serve para isso: para manter tudo como está.
Então, finalizando: ninguém tem que ser otimista. As pessoas tem que ser motivadas, por outras pessoas, pelo mundo, e motivadas de modo adequado.