A popularidade do Criacionismo, no Brasil, é crescente. E isso é preocupante.
Os criacionistas tentam comprometer a produção de conhecimento e tecnologias que são benéficas para a humanidade em função de mesquinhez e rigidez em relação aos seus dogmas religiosos. Isso é assustador e desnecessário.
A crença em Deus, ou mesmo o que os cristãos chamam de fé, tem condições de conviver com novas descobertas científicas. A Terra não é plana, não é o centro do universo, assim como o ser humano não é o centro da vida. E isso tudo não impede a crença em Deus. Isso talvez impeça o fanatismo, mas não a crença em Deus.
Em vez de sofisticarem suas crenças, suas ideologias, algumas pessoas preferem combater avanços e descobertas científicas importantes para a sobrevivência de nossa espécie. Assim a espiritualidade é relegada a segundo plano e o fanatismo impera. Isso é lamentável.
Um amigo, biólogo pela USP (o qual prefere ter sua identidade preservada, para evitar hostilidades por parte de fanáticos religiosos de seu círculo social), se expressa muito bem acerca do tema:
“Não acreditar nas teorias da evolução biológica, diante da massa absurdamente gigantesca de dados que as evidenciam e das aplicações tecnológicas que já existem a partir dela (inclusive na geração de programas de computador e projetos em robótica) é, atualmente, tão pouco razoável quanto acreditar que a Terra é quadrada, que o Sol gira em torno de nós, que as estrelas são brilhantes presos em esferas de cristal ou que toda a matéria é constituída apenas por 4 elementos.
Não acreditar em evolução biológica era razoável há mais de 100 anos atrás. Hoje não é mais!”
Para finalizar, Karl Popper ajuda a reforçar este ponto:
"A diferença principal, me parece, tem a ver com o fato de que as ideias de uma pessoa em plena saúde mental não são impossíveis de serem corrigidas: uma pessoa em plena saúde mental mostra sempre uma certa disposição de revisar as suas opiniões. Ela só pode fazê-lo contra a vontade; ela se coloca, contudo, pronta a corrigi-las sob a pressão dos eventos, das opiniões sustentadas por outros, e de argumentos críticos.
Se assim é, podemos dizer que a mentalidade do homem que possui opiniões bem firmes, o homem ‘comprometido’, assemelha-se àquela do louco. Pode ocorrer que todas as opiniões bem firmes desse homem sejam adaptadas, no sentido de que elas coincidem efetivamente com a melhor solução possível no momento em que elas são concebidas.
Mas na medida em que ele está comprometido, ele não é racional: ele irá se recusar a toda variação, a toda revisão. Como ele não pode estar de posse da verdade exata (pessoa alguma pode), ele irá se recusar a corrigir, dentro de um espírito racional, até mesmo as opiniões cuja falsidade seja patente. E ele irá se recusar, do mesmo modo, a partir de sua vida, que a sociedade aceite a revisão dessas idéias.
É por isso que, quando esses que glorificam o comprometimento e a fé cega se apresentam com o nome de irracionalistas (ou pós-racionalistas), eu me ponho de acordo com eles. Eles são irracionalistas, embora sejam capazes da raciocinar.
Isso porque eles encontram uma soberba em se reconhecerem incapazes de quebrar a casca, em se fazerem prisioneiros de suas manias. Eles se privam espiritualmente da liberdade, por um ato explicável (segundo os psiquiatras), no sentido da ação racionalmente compreensível. Iss pode ser visto, por exemplo, como um ato cometido por temor - o temor de ser forçado, pela crítica, a abandonar uma idéia à qual eles se prendem, pois ela se constitui (ou porque eles acreditam que ela constitui) a base de toda sua vida." (Popper, 1994, p. 180)
POPPER, K. R. (1994). The myth of the framework: in defence of science and rationality. London: Routledge.
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