As pessoas costumam contrapor estas duas posturas, querendo tomá-las, de modo geral, como mutuamente exclusivas. Ou seja, pretendem frequentemente dizer que uma exclui a outra. “Ah, seus empregados têm medo de você”, afirma José. “Não é medo, é respeito. Não quero que tenham medo de mim, quero somente respeito”, retruca João. Ou então: “Não tenho medo de Fulano. É somente respeito”. Quanto medo de parecer que se tem medo.
A pergunta é: medo do que, em Fulano? O sujeito pode até não temer que Fulano parta para a briga, que seja agressivo. Mas pode sim temer que Fulano se magoe. Medo de feri-lo. E novamente eis o respeito em função do medo. Respeitar é deixar de fazer uma série de coisas. Deixamos de fazer algo para evitar que algum mal aconteça ou para não perder algo bom. Ou seja, respeitamos, deixamos de fazer algumas coisas por medo.
Também podemos respeitar da seguinte forma, fazendo reverências. Podemos fazê-las para obtermos carinho ou para evitarmos a mágoa, a tristeza do outro. No primeiro caso é um respeito em troca de carinho, de amor e, portanto, é também um ato de amor, uma forma de acarinhar. No segundo caso ainda permanece o medo. Trata-se de um dever. E quando se faz por dever, não se faz por amor, com amor. Fazer por dever é fazer para evitar um mal. Fazer por amor é fazer para se obter um bem.
Mas que coisa estranha: fazer uma reverência e receber carinho, amor? Isso é possível? Creio que sim. Trata-se do pedido de benção a alguns familiares, pouco comum hoje em dia em nossa sociedade, ou de uma série de reverências as quais observamos mais comumente entre os orientais.
E em muitos outros casos se trata somente mesmo de esquivar-se do contato com o outro, de medo puro. É quando não se olha nos olhos, quando não há trocas verbais simétricas: somente o mais poderoso manda na conversa, falando e ouvindo o que quer. Neste caso a intimidação é prevalente.
Finalizando, e respondendo à pergunta inicial: respeito ou medo? Parece que a realidade é um pouco mais complexa e permeada de especificidades do que esta mera enunciação vaga do senso comum.
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