Obsessões são idéias fixas, geralmente desagradáveis, carregadas de ansiedade, das quais o sujeito não consegue se livrar. Muitos obsessivos se queixam que são escravizados por determinados pensamentos ruins, dos quais não conseguem se livrar. Geralmente recorrem a alguma compulsão, algum comportamento ritual repetitivo e aparentemente desprovido de utilidade objetiva para desfazer a obsessão.
É mais ou menos assim: o pensamento ruim (o pensamento “negativo”) surge e o obsessivo somente consegue se apaziguar e sentir-se menos ansioso com um ritual que o neutraliza. O jogador na hora do pênalti, por exemplo. Ele está morrendo de medo de errar. E o que faz para neutralizar esse medo ou as obsessões, os “pensamentos ruins”, de que irá errar? Ele pode, por exemplo, recorrer ao pensamento positivo: “vou acertar, vou acertar”. Atua como uma espécie de oração.
Neste contexto, de ansiedade extrema, já instalada, o chamado pensamento positivo, ajuda. Ele tem a função de neutralizar as obsessões, os pensamentos ruins, e acalmar o sujeito. E o que fica claro é o seguinte: se não houver medo, não há necessidade de pensamento positivo. Onde há medo, há pensamento positivo. E onde há pensamento positivo, há medo. Sem medo, ele perde o sentido.
Porém, quero focar em outro detalhe. As compulsões (e o pensamento positivo é uma delas) neutralizam as obsessões e acalmam o obsessivo. Porém, este efeito é paliativo. Os estudos nesta área são conclusivos: a neutralização reforça a obsessão. Resolve momentaneamente, mas acaba por fim cronificando a obsessão. A melhor alternativa é o enfrentamento, a exposição sistemática. Ou seja, é mais eficaz e efetivo acabar com o medo.
Para o exemplo do pênalti eu diria o seguinte. É mais efetivo o jogador se preparar para perder o medo de perder um pênalti. Aprender a perder, então, é fundamental. Obsessivos são, de modo geral, fóbicos ou perfeccionistas. Morrem de medo de algumas coisas: contaminação, medo de perder, de errar, de morrer, medo de ter medo e vários outros milhares de medos dos quais sua vida é constituída.
Atendi a dois casos em que os pacientes tinham um medo absurdo do diabo. A imagem do demônio em suas mentes ou a idéia de que teriam vendido a alma para ele, ou que ele lhes faria algum mal, era algo do qual não conseguiam se livrar. Este tipo de obsessão gerava muita ansiedade e acabava sendo incapacitante. Recorriam aos mais diversos rituais: orar indefinidamente, fazer repetidos e inúmeros sinais da cruz, não dizer certas palavras, ou dizê-las em pares (para que fossem ditas e “desditas”), não adentrar em determinados lugares, não pisar em determinados pontos do chão. Enfim, o arsenal de compulsões pode ser enorme e o sujeito acaba padecendo bastante com isso tudo.
Fiz o que então? Baseado em uma estória zen, a qual lera há alguns anos, eu lhes propus o seguinte: o enfrentamento. Com o consentimento desses pacientes, invoquei o diabo. Se ele de fato existia, deveria comparecer à sessão.
“Diabo, belzebu, capeta, demônio, lúcifer...” – utilizamos todos os seus nomes e designações possíveis, “eu, Ricardo de Souza Machado Bueno e Adilson da Silva Teles Moura” (era importante também fornecer os nomes completos, assim não teria erro), “estamos aqui, no planeta Terra, na América do Sul, no Brasil” - enfim, endereço completo, pro coisa-ruim não ter desculpa; “venha até nós, apareça e comprove sua existência!”.
Nesse momento o paciente geralmente fica muito ansioso e tenso, praticamente se agarrando ou se escondendo atrás de nós.
Antes de tudo, porém, deve-se encher o bolso de grãos de feijão, centenas deles, se possível. A idéia é a seguinte: se o diabo aparecer, perguntamos quantos grãos de feijão temos no bolso. Nas duas sessões em que adotei este procedimento, ele sequer apareceu. Na estória zen, porém, o espírito maligno costuma aparecer. Mas, ao se perguntar pela quantidade de grãos no bolso, subitamente desaparece, sem dar qualquer resposta, e nunca mais retorna. E foi exatamente isso o que ocorreu com meus pacientes. O enfrentamento dissipou a obsessão. O diabo nunca mais azucrinou suas vidas.
(Autor, personagens e história fictícios)
É mais ou menos assim: o pensamento ruim (o pensamento “negativo”) surge e o obsessivo somente consegue se apaziguar e sentir-se menos ansioso com um ritual que o neutraliza. O jogador na hora do pênalti, por exemplo. Ele está morrendo de medo de errar. E o que faz para neutralizar esse medo ou as obsessões, os “pensamentos ruins”, de que irá errar? Ele pode, por exemplo, recorrer ao pensamento positivo: “vou acertar, vou acertar”. Atua como uma espécie de oração.
Neste contexto, de ansiedade extrema, já instalada, o chamado pensamento positivo, ajuda. Ele tem a função de neutralizar as obsessões, os pensamentos ruins, e acalmar o sujeito. E o que fica claro é o seguinte: se não houver medo, não há necessidade de pensamento positivo. Onde há medo, há pensamento positivo. E onde há pensamento positivo, há medo. Sem medo, ele perde o sentido.
Porém, quero focar em outro detalhe. As compulsões (e o pensamento positivo é uma delas) neutralizam as obsessões e acalmam o obsessivo. Porém, este efeito é paliativo. Os estudos nesta área são conclusivos: a neutralização reforça a obsessão. Resolve momentaneamente, mas acaba por fim cronificando a obsessão. A melhor alternativa é o enfrentamento, a exposição sistemática. Ou seja, é mais eficaz e efetivo acabar com o medo.
Para o exemplo do pênalti eu diria o seguinte. É mais efetivo o jogador se preparar para perder o medo de perder um pênalti. Aprender a perder, então, é fundamental. Obsessivos são, de modo geral, fóbicos ou perfeccionistas. Morrem de medo de algumas coisas: contaminação, medo de perder, de errar, de morrer, medo de ter medo e vários outros milhares de medos dos quais sua vida é constituída.
Atendi a dois casos em que os pacientes tinham um medo absurdo do diabo. A imagem do demônio em suas mentes ou a idéia de que teriam vendido a alma para ele, ou que ele lhes faria algum mal, era algo do qual não conseguiam se livrar. Este tipo de obsessão gerava muita ansiedade e acabava sendo incapacitante. Recorriam aos mais diversos rituais: orar indefinidamente, fazer repetidos e inúmeros sinais da cruz, não dizer certas palavras, ou dizê-las em pares (para que fossem ditas e “desditas”), não adentrar em determinados lugares, não pisar em determinados pontos do chão. Enfim, o arsenal de compulsões pode ser enorme e o sujeito acaba padecendo bastante com isso tudo.
Fiz o que então? Baseado em uma estória zen, a qual lera há alguns anos, eu lhes propus o seguinte: o enfrentamento. Com o consentimento desses pacientes, invoquei o diabo. Se ele de fato existia, deveria comparecer à sessão.
“Diabo, belzebu, capeta, demônio, lúcifer...” – utilizamos todos os seus nomes e designações possíveis, “eu, Ricardo de Souza Machado Bueno e Adilson da Silva Teles Moura” (era importante também fornecer os nomes completos, assim não teria erro), “estamos aqui, no planeta Terra, na América do Sul, no Brasil” - enfim, endereço completo, pro coisa-ruim não ter desculpa; “venha até nós, apareça e comprove sua existência!”.
Nesse momento o paciente geralmente fica muito ansioso e tenso, praticamente se agarrando ou se escondendo atrás de nós.
Antes de tudo, porém, deve-se encher o bolso de grãos de feijão, centenas deles, se possível. A idéia é a seguinte: se o diabo aparecer, perguntamos quantos grãos de feijão temos no bolso. Nas duas sessões em que adotei este procedimento, ele sequer apareceu. Na estória zen, porém, o espírito maligno costuma aparecer. Mas, ao se perguntar pela quantidade de grãos no bolso, subitamente desaparece, sem dar qualquer resposta, e nunca mais retorna. E foi exatamente isso o que ocorreu com meus pacientes. O enfrentamento dissipou a obsessão. O diabo nunca mais azucrinou suas vidas.
(Autor, personagens e história fictícios)