Thursday, July 31, 2008

"Tudo é relativo"?

De imediato, já podemos dizer o seguinte: essa frase não tem sentido. É um paradoxo. E paradoxos, para boa parte da lógica, são simplesmente enunciados sem qualquer sentido. Se tudo é relativo, logo este enunciado também o é, e assim nem tudo é relativo. Ao dizer isto, não estamos dizendo simplesmente nada. Há contradição: tudo e nem tudo é relativo. Resumindo: besteira.


Melhor dizer outra coisa: dizer, talvez, que é sempre importante analisar o contexto, ou tentar ser mais específico. Porque a relatividade existe sim, assim como o absoluto.


E alguns ainda arriscam: “não existem verdades absolutas”. Nada disso. Existem sim: são, por exemplo, as verdades por definição. “Todos os homens são mortais”. Esta é uma verdade absoluta. Alguém poderia objetar: “E se encontrássemos, em algum outro ponto do universo, um homem imortal?”. Resposta: já não seria homem, seria outra coisa. O homem, por definição, é mortal. Assim como o fato dos triângulos possuírem três lados: outra verdade absoluta, por definição. Se possuir um número diferente de lados, já não é um triângulo.


Outra pérola que li estes dias, em um marcador de página de uma grande e pomposa livraria brasileira: “Fatos não há, somente interpretações”. E pior, tal frase era atribuída a Nietzsche. Sim, ele pode muito bem ter proferido este enunciado. Mas assim, fora de contexto, como a livraria reproduziu?


Pura besteira. Se tudo fosse relativo ou se fatos não existissem, convenhamos, o mundo seria um caos total. Como fazer ou reivindicar justiça sem fatos ou qualquer quinhão de absoluto? 


Como debater o que quer que seja? O próprio debate os supõe. Isso tornaria impossível o conhecimento, além de dar razões à prática e justificativa do mal ou à extinção da moral, da ética. Desse modo, a versão do criminoso, do corrupto, teria o mesmo valor da versão de suas vítimas, apesar dos fatos estarem do lado das últimas.


Como dizem os anglófonos: “bullshit”...




Podcast com comentários:


3 comments:

André Lemos said...

Relativo e absoluto, dois extremos que o mundo vivência. Há coisas que são relativas, é há coisas que são absolutas, como a morte. "tudo" é um extremo, e isso é relativo? Eu estou entre o relativo e o absoluto. Fui lançado ao mundo sem explicações, isso pode ter sido proposital, pensando nisso, agora desejo apenas sentir a minha existência, sentir a natureza sem explica-la. Isso é relativo, mas agora está se tornando absoluto, prefiro cobiçar o que acredito, pois aos olhos dos outros isso pode ser relativo, mas importante é o meu absoluta que as vezes é relativo. André Lemos

Anonymous said...

É, grande mestre, que continuemos aqui aquela velha querela de piscina. Por meu lado, só pra implicar, pra colocar pimenta no prato, devo dizer - coitados dos humanistas, como se iludem! Os homens que se embrenharam pela profundidade do átomo só estão encontrando um monte de relações. Entre o quê? Ao que parece, entre absolutamente nada, ou melhor, entre conjuntos menores ainda de relações.

Ioda

Anonymous said...

acho que o problema da sua argumentação está no "todo", está se baseando totalmente no conectivo todo, mas temos q perceber que esse conectivo tbm é falho, não sei a qual conjunto todo vc se baseia, até agora não consigo ver um conjunto onde todos os elementos conhecidos hoje estão contidos.