Friday, February 24, 2006

SONHOS COM EDU

Edu se foi. Não foi levado por Deus. Ele mesmo tomou a decisão e deu no dessa vida. Claro, ninguém entende, ninguém aceita. Somente se estiver na mesma sintonia.
Como ele mesmo deu um jeito de ir embora, ficou no meu inconsciente a impressão de que também poderia dar um jeito de voltar. Porque a decisão de Deus é mais irrevogável. Se Deus volta atrás, prova que teve uma decisão imperfeita. E isso compromete o Deus todo poderoso. Bom, mas Edu era humano, um mano meu, ok. Errava, como todos nós. E poderia então voltar atrás.
Tive vários sonhos em que ele voltava atrás. Sem contar o meu desejo mais do que consciente de que voltasse mesmo.
Sonho 1:
Apesar de hoje eu não saber mais se foi sonho ou se ocorreu mesmo.
Estávamos todos no Bar Brasília, em Ribeirão, sem o Edu (ele tinha batido as botas). Este é o bar que freqüentamos muito há uns dez anos atrás. Edu esteve conosco, várias vezes, em vários momentos muito felizes de nós, os irmãos metralha.
De modo repentino, me toquei de que havia algo estranho no ar. Virei para os amigos à mesa e disse assim: “Moçada, o Edu tá vindo ”. “Mas como assim, ele voltou?”, perguntaram. “É, não sei como, mas o cara voltou”. E de repente, para o espanto e perplexidade geral, o Edu aparece. Cumprimenta todo mundo, como se nada tivesse acontecido. O povo fica louco e quer submetê-lo a uma avalanche de perguntas, para saber como esse cabra afinal voltou da morte.
Tudo bem gente, mas preciso antes ir ao banheiro. Quando voltar eu explico tudinho. E vocês verão que é simples, que não tem mistério algum”. Foi. E ainda o vimos fechando a porta. Mas não saiu mais de . Batemos e nada. Abrimos a porta e ele simplesmente havia desaparecido. Perto da pia, em local bem visível, havia um flor, singela no meio da hecatombe de um banheiro de pinguços.
Peguei-a pra mim e retornei ao meu lugar.
“E , Adriano, cadê o Eduardo? voltou do banheiro? To curioso pra saber o final dessa estória?”
Gente, cheguei e não havia mais ninguém. Ele simplesmente sumiu. Deu no ”. Para depois me lembrar que era essa uma das marcas mais características do Edu: viver dando no .
Levei a flor para casa. No dia seguinte, a namorada do Cako chegou com ele e pegou a flor nas mãos: “Que mandrágora linda...”.
Depois fui pesquisar as propriedades da mandrágora: narcótica, alucinógena, sedativo potente, afrodisíaca. Uma planta repleta de mitos. Tradicionalmente utilizada em diversos rituais na história da humanidade. E ainda, tempos depois, conversando com uma criança, ela me narrou um episódio do livro Harry Potter em que a mandrágora era dada para ressuscitar alguns personagens que haviam sido petrificados.

Wednesday, February 01, 2006

Projeto de lei que proíbe a palmada

Na semana passada participei de um debate, ao vivo, pela Tv Nacional (Programa Diálogo Brasil, 25/01/2006, às 22:30hs), sobre o Projeto de Lei contra a palmada. Se aprovado, será proibido por lei todo e qualquer castigo físico à crianças, inclusive a palmada. No caso de infração são previstas penalidades como acompanhamento e orientação psicológica dos pais ou responsáveis envolvidos.

Os participantes éramos eu e a deputada federal Sandra Rosado (PSB/RN), aqui em Brasília. O filósofo e educador Dante Donatelli, em São Paulo, e Lauro Monteiro Filho, da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), no Rio de Janeiro. Tanto a deputada quanto Lauro Monteiro Filho encabeçavam a defesa do projeto de lei. Sendo que este participou intensamente de sua elaboração. Dante Donatelli se posicionava contra tal projeto. E eu, em tese, também deveria argumentar contra. Dado o tamanho da polêmica, achei mais prudente a avaliação crítica tanto dos argumentos prós e contras.

Tentarei, então, resumir aqui os pontos principais de minha reflexão:

Palmada com diálogo, educa? Sim. E é possível educar sem palmada, sem a utilização de castigos físicos? Sim, também. O maior problema são os argumentos mal formulados, tanto prós quanto contra. Mas esta é uma questão da ética, do campo jurídico e não da Psicologia. Por quê? Porque não existem evidências ou estudos conclusivos de que a palmada (punições físicas moderadas) cause danos psicológicos ou de que seja uma porta de entrada para punições mais serveras e violentas, para o abuso. E também não é necessariamente um modelo que ensina a violência para a resolução de todo e qualquer conflito. O modelo que necessariamente existe é o da punição corporal frente a determinadas infrações.

Portanto, não existem argumentos psicológicos plausíveis, seja favoráveis ou contra a palmada. Penso que os argumentos éticos e jurídicos são mais relevantes. O debate sobre este projeto de lei remete-se mais ao campo jurídico e ético do que à Psicologia. A Psicologia não tem nada a dizer sobre isso.

E em termos éticos, o que pode ser dito ou pensado?

Talvez um bom príncipio para a argumentação, em termos éticos, seja, de forma bem simples, o seguinte: "Se é proibida a punição corporal para adultos, por que seria permitida para as crianças?". Onde fica a dignidade da criança? Por que, neste aspecto, ela não tem o direito de igualdade com os adultos? E aí sim poderíamos começar um debate mais consistente, pois a igualdade é um imperativo ético relevante.

Por outro lado, em termos legais, também existem questões que devem ser levantadas:

Uma lei como esta, a qual proíbe que um pai dê uma simples palmada em um filho, não é muito invasiva? Onde ficam as pressupostas garantias legais referentes às liberdades individuais e à privacidade?

Um debate mais consistente deve enfrentar estas questões.