Por outro lado, havia muitos e memoráveis momentos de união do trio. E Edu, claro, o mais velho, era sempre o mentor do que iria acontecer ao nosso mundo.
Éramos crianças do interior. Nascemos em uma Cohab. Casas com
Parecia aquela banda de rock de um antigo desenho animado: “Os impossíveis”. Curly: o homem mola (Cako). Harry (?): o homem fluído (Edu). E Marlon (?): o Multihomem (eu). Paravam no meio de um show e viravam super-heróis, voando para o alto e gritando: "E Vamos Nós !!!". E o Multi-Homem sempre falava para o vilão: "Você pegou todos... menos o original !".
Para os três patetas, eu e Cako éramos os dois idiotas, os que faziam tudo errado. E Edu aquele que vinha pra botar ordem na casa. Papel de mais velho.
E éramos impossíveis mesmo. Edu estava com 10 anos, eu com 7 e meio e Cako com 6. Meu avô resolveu passar o sábado a tarde conosco na fazenda de seu antigo patrão, Dr. Quartim. Pegou seu fusquinha abacate 61. Isso foi em 1980. E lá fomos nós. “E Vamos Nós !!!", gritávamos na estrada, em uníssono. E dá-lhe aquelas tradicionais brigas no banco de trás. “A janela é minha...”. “Não, minha...”. E tome porrada.
Chegando lá, era um ambiente desconhecido. Edu, óbvio, pegou o comando do batalhão. Aí ele virava meu mestre. O que faríamos dessa vida sem o Edu? Isso era forte em nós. Tanto que Cako, há mais de oito anos, quando o Edu morreu, virou-se pra mim, colocou a mão em meu ombro, olhou fundo em meus olhos e disse: “Agora somos só nós dois, negão. Não vai mais ter Edu pra cuidar da gente não”.
E então Edu tomou a frente. Tudo o que ele dissésse, nós obedeceríamos. Afinal, éramos os dois idiotas dos três patetas, né verdade.
Chegamos na fazenda. E era linda, maravilhosa. Plantavam lírios. Inacreditável: havia um morro forrado de lírios, de todas as cores. Lindo, lindo. Cartão postal. E aqueles dois loirinhos e um moreninho, ficava mais calendário ainda. Copiava certinho o padrão de beleza europeu que o mundo todo compra.
Encontramos alguns pedaços de canos antena, de alumínio. Caniços de antena. Pareciam espadinhas. Ah, claro, não deu outra. A espadinha cortava lírio como em filme de samurai. Meu avô se distraiu um pouquinho. E quando chegamos lá em cima do morro. O que já havia ocorrido? Eu, Edu e Cako, abrimos uma estrada bem no meio do morro. Acho que decepamos milhões de lírios em questão de minutos. E, fora de brincadeira, gente. Edu olhou para o mundo que jazia a seus pés, como se tivesse acabado de desbravar o Everest. E em pose de mestre disse:
“O caminho se faz ao caminhar...”
Meu avô ficou louco.
3 comments:
Ah, mas que maravilha de texto!!!! Ficou meio psicodélico, coisa de infância de quem nasceu em 60, 70. Fiquei com saudades como se fosse o autor, especialmente de Edu, claro. E, sim, o do meio é sempre o espremido entre o mais velho e o caçula. A não ser quando o mais velho é... menina!, como foi meu caso. Daí fica uma coisa assim "cuidado, Costinha, horríveis GORDAS no ataque!!!". Qualquer dia explico em um post lá no Mina. Beijos
Neuza - Mina de Letras
Maravilhooooso! Maravilhoso!
Me lembro com se fosse hoje...
Brilhante resgate de nossas memorias, heheh!!
Parabens, Pretao!
Beijo,
Cakao.
caracaaaaaaaaaa,.....
lindo de viver, lindo de ler, lindo pra sonhar.
eu contagiei vc com minhas saudades, mas vc, com sua sensibilidade, transformou saudade em quadro de van gogh.
tbém sou do meio, mas a filha mais velha... complicado.
rs
e o hans agora é meu amigo tbém.
beijão
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