Essas pessoas que não dão valor ao que têm, que ficam o tempo todo se comparando a outras, que estariam em algum nível superior, precisam de um pouco mais de isolamento. Talvez precisem mesmo sair das redes sociais e estarem mais dentro de sua própria vida, em sua própria intimidade. Porque a felicidade mora na simplicidade e na intimidade. A felicidade não mora na fama, na relação com fãs ou pessoas que não nos conhecem, e que na verdade não nos amam. E, claro: o bem-estar psicológico depende de mais uma infinidade de variáveis. Mas faz sentido também falar desse aspecto pontual, quando aparece.
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Friday, December 25, 2020
Saturday, December 05, 2020
Já sonhei em ser jogador de futebol
Com 10 anos de idade, durante todo o ano de 1982, que teve a Copa da Espanha, joguei muito futebol, praticamente todos os dias, e sonhei intensamente em ser jogador. E eu até me destacava, como zagueiro. Eu era uma pedra no sapato de qualquer atacante ali do mundinho em que eu habitava.
No universo de meu bairro, o Jardim Independência (o Jardel), no qual, durante alguns anos, morou o pai de Sócrates, eu era um zagueiro respeitado no campinho, atrás da escola em que estudava, a escola estadual João Augusto de Melo (o Jamel).
O pai do Magrão (Sócrates) morava no Jardel. Cada jogo da seleção, em 1982, tinha emissoras de TV dentro da casa dele. E, que coisa engraçada, o Raí tinha somente 17 anos em 1982, e já devia brilhar nas bases do Botafogo de Ribeirão, e obviamente devia também morar no Jardel. Mas eu nem sabia que Sócrates tinha um irmão que também jogava futebol, e os mais velhos do campinho tinham no máximo 13 anos de idade. Raí, com 17 anos de idade, fazendo ensino médio em escola particular do centro da cidade, era praticamente de outra geração, de outro mundo, mesmo morando no mesmo bairro que nós.
Durante todo o ano de 1982 sonhei demais em ser jogador profissional quando adulto. Pedia para meu pai me matricular na escolinha de futebol do Botafogo-SP ou mesmo na categoria fraldinha do time rival da cidade, o Comercial, para o qual ele torcia.
- Pai, tem como me matricular no fraldinha?
- Ah, sim, filho, o pai vai ver isso pra você...
Pedi durante um ano, e não rolou. 5 anos depois eu estava jogando no Comercial, mas hóquei sobre patins, esporte mais apreciado por meu pai do que futebol.
Porém, durante o próprio ano de 1982, cometi um erro. Sonhei mais alto e quebrei a cara. Tentei sair da zaga para jogar mais para frente. O resultado foi sofrível. Eu jamais seria um bom jogador do meio pra frente. Teria de nascer de novo, no mínimo.
E ontem me peguei me imaginando como jogador de futebol profissional, realizando um de meus mais intensos sonhos da infância, ao lado dos grandes de minha geração, indo para copas do mundo. É muito insólito se imaginar em uma realidade totalmente diferente, porque 12 anos depois, em 1994 (Copa dos EUA), quando eu tinha 22 anos, meu mundo era uma coisa absolutamente diferente de uma vida de atleta profissional.
Eu nem mesmo jogava com meus amigos da Psicologia, que treinavam no campo da USP, e tinham um time de respeito, com alguns colegas (como Felipe Nassar e Fernando Falcão) que haviam treinado em grandes clubes de São Paulo, como o Palmeiras, por exemplo.
Preferia nadar. Dia sim, dia não, nadava meus mil metros na piscina da universidade. E era quase todos os dias praticamente a mesma rotina: aulas de manhã e à tarde, piscina ao meio-dia, rango no bandeijão, no almoço e no jantar (aliás, por diversas e memoráveis vezes, na companhia de figuras lendárias do universo filô-uspiano de Ribeirão naqueles anos, tais como Alexandre Ioda e Antonio Sousa, que era conhecido como Barbosa), e biblioteca à noite, até umas 22 horas.
Ser jogador profissional de futebol foi talvez um dos sonhos mais distantes da minha realidade que eu já tive.